Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas

Você acorda cedo, paga boleto, tenta trabalhar direitinho, cuida da saúde mental, faz terapia, resolve tretas, se esforça pra manter relações saudáveis e, no fim do dia, o que é que acontece? Descobre que deputados votaram uma PEC pra blindar a si mesmos da Justiça e ainda aceleram um projeto pra anistiar os golpistas de oito de janeiro. Parece piada, mas não é — e nem stand up de Léo Lins conseguiria ter um roteiro tão baixo.

A tal PEC da Blindagem, apelidada de PEC da Bandidagem, basicamente cria uma redoma de vidro em torno de quem já deveria ser o exemplo da lei. Quer dizer: se aprovarem mesmo, a Justiça só poderia andar contra deputado ou senador com autorização da própria Casa. O que é isso, senão licença pra delinquir? Uma tornozeleira parlamentar, mas feita de ouro.

E como se não bastasse, agora também tentam enfiar goela abaixo a anistia pros criminosos do 8 de janeiro. Aqueles que quebraram patrimônio público, que atentaram contra a democracia, que deixaram o país inteiro com medo de um golpe. É “virar a página”, dizem. Mas virar a página sem ter lido direito é só rasgar o livro (DE HISTÓRIA).

Imagina o tamanho do tapa na cara: Flor de Lis, a recém descoberta “Bissexual”, poderia ser compreendida pela morte do marido; Bolsonaro, o ex-presidente que articulou um golpe de Estado, poderia ver sua pena recente reduzida. E nós, aqui fora, que cumprimos regra, que respeitamos lei, seguimos sendo chamados de “otários” por acreditar que justiça vale alguma coisa. 

O mesmo ex-presidente que desejou a morte de uma ex-presidente com câncer agora se vitimiza com câncer de pele, enquanto corre da Justiça como quem corre de treino físico. O homem que se gabou do passado atlético, faz alarde por ter ficado dez segundos sem respirar. Mas a gente que segure o fôlego, o choro, até engolir calado mais uma manobra das portas do inferno que ele abriu. 

Mas não, não vai ser assim. Domingo tem povo na rua. São Paulo, Salvador, Brasília, Rio, Fortaleza, Aracaju, o Brasil inteiro. Grandes nomes da arte se mobilizando em verdadeiras manifestações de rua. E esse é o alívio no meio do caos: saber que estamos longe da maioria dos deputados que votam contra nós. Que ainda existe indignação coletiva que se leve a sério e tenha razão. 

Panela batendo, cartaz sendo pintado, gente disposta a não deixar passar, sem passear de moto e passar vergonha como se tornou comum nas reuniões dos falsos patriotas e verdadeiros inimigos USAdos da nação. Porque se a blindagem e a anistia são a cara mais descarada do privilégio, a resistência é a cara mais bonita da democracia.

E é por isso que eu digo: se eles querem foder nossa vida, que encontrem resistência na rua, nos gritos, nos corpos, nos votos. Porque viver direitinho e estar cansado não é sobre ser burro e aceitar calado — é sobre não permitir que façam do país um condomínio de bandidos de terno.

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Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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