O histórico do Brasil no Oscar
Na segunda-feira (15), a Academia Brasileira de Cinema selecionou o filme “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, como representante brasileiro para concorrer ao Oscar 2026. A partir de então, a obra irá disputar a vaga na lista final de cinco indicados com outros países, na categoria de Melhor Filme Internacional.
O Agente Secreto ganhou notoriedade no Festival de Cannes 2025, onde conseguiu os prêmios de melhor ator, para Wagner Moura, e melhor direção, para Kleber Mendonça Filho. Ao percorrer o circuito internacional, o filme ganhou nota máxima no jornal inglês The Guardian e foi descrito como “magistral” pelo Hollywood Reporter e “belíssimo drama criminal” pelo The Playlist.
A partir deste contexto, as expectativas aumentam para um maior reconhecimento do cinema nacional internacionalmente. Portanto, faz-se necessário um trabalho retroativo para analisar caso a caso as vezes em que o Brasil marcou presença na maior premiação da sétima arte.
Primeira indicação
O primeiro filme brasileiro a participar do Oscar foi O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte. Na ocasião, ele concorreu na categoria de Melhor Filme Internacional, entretanto, o ganhador foi o filme francês Les dimanches de Ville d’Avray (1962), ou Sempre aos Domingos.
O Pagador de Promessas adapta o livro homônimo do autor Dias Gomes. Ambos contam a história de Zé do Burro, um cristão que, em troca da salvação de seu burro Nicolau, promete carregar uma cruz do interior da Bahia até a capital Salvador, a fim de depositá-la no altar e prestar agradecimentos a Santa Bárbara (Iansã).
Embora o filme não tenha conquistado o Oscar de Melhor Filme Internacional, ele angariou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962. Esse é o prêmio de maior prestígio, entregue ao melhor filme exibido durante a premiação.
O Pagador de Promessas (1962). Reprodução: Cinedistri
Um hiato de 30 anos
Após 33 anos sem nenhuma indicação, um filme brasileiro voltou a aparecer no Oscar apenas em 1996. O final da década de 1990 ficou marcado por três indicações ao Oscar de Melhor Filme Internacional e uma ao Oscar de Melhor Atriz.
O Quatrilho (1995), de Fábio Barreto, O que é Isso, Companheiro? (1997), de Bruno Barreto, e Central do Brasil (1998), de Walter Salles, participaram ativamente do circuito internacional. Dentre os três filmes, aquele que mais ficou marcado na premiação foi Central do Brasil.
Central do Brasil (1998). Reprodução: VideoFilmes
Durante o Oscar de 1999, a atriz Fernanda Montenegro perdeu o prêmio de melhor atriz para a performance da Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado. Naquela temporada, o filme se tornou o “favorito” da academia, muito por conta do investimento massivo em publicidade e da rede de contatos do produtor Harvey Weinstein.
A distribuição de obras nacionais no circuito internacional é, historicamente, o maior gargalo para a indicação de filmes brasileiros ao Oscar. Mesmo com a derrota na premiação, Fernanda Montenegro tornou-se a primeira atriz da América Latina a ser indicada na categoria.
Anos 2000
O começo dos anos 2000 representou o estrelato do cinema nacional. No ano de 2004, o filme Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, foi indicado às categorias de Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia. É, até então, o brasileiro com o maior número de indicações da história e, ironicamente, sua distribuição internacional se deu pela Miramax, que tem como um de seus fundadores Harvey Weinstein.
Entretanto, a concorrência com Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), de Peter Jackson, em categorias como Roteiro Adaptado, Direção e Montagem inviabilizou a vitória de Cidade de Deus. Até o Oscar 2025, a obra de Peter Jackson permanece como filme mais premiado do evento, ao lado de Ben-Hur (1959) e Titanic (1997).
A consagração
Após indicações em categorias diversas, como nas de Melhor Animação, para O Menino e o Mundo (2013) e Melhor Documentário, para Democracia em Vertigem (2019), a consagração no maior prêmio do cinema veio no ano de 2025, com Ainda Estou Aqui (2024).
O longa, dirigido por Walter Salles, concorreu nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz, para Fernanda Torres, e Melhor Filme Internacional. Das indicações, o título conquistou a de Melhor Filme Internacional, representando uma porta de entrada do cinema brasileiro na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Ainda Estou Aqui (2024). Reprodução: Sony Pictures
A história de Rubens Paiva, ex-deputado encarcerado pelo DOI-Codi do Rio de Janeiro durante o período da Ditadura Militar (1964-1985), ficou eternizada. Além dos feitos técnicos, o filme também foi um dos grandes responsáveis pela retomada ao debate da Lei de Anistia no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ainda Estou Aqui representa uma transição para uma nova fase do cinema nacional frente às premiações. No mesmo ano em que o filme de Walter Salles foi consagrado no Oscar, O Agente Secreto foi aplaudido por mais de dez minutos no Festival de Cannes e foi selecionado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer ao Oscar. A obra de Kleber Mendonça Filho estreia no dia 6 de novembro no Brasil e alimenta as expectativas para se tornar também um sucesso comercial.
