O pior filme do ano, até o momento

De forma bastante análoga à uma coluna que eu publiquei em maio deste ano, esta surge de uma motivação muito semelhante, mas ao mesmo tempo adversa. Naquela ocasião, dediquei um total de seis parágrafos para elogiar a originalidade, os aspectos técnicos, o subtexto e todo o impacto positivo que o filme Pecadores causou em mim. Até a publicação da coluna de hoje, esta se mantém como a melhor experiência que eu tive no cinema no ano de 2025.

Esmiuçando melhor a parte da “motivação semelhante, mas ao mesmo tempo adversa”, o que levou à escrita dessa coluna são todos os defeitos técnicos, falta de subtexto, péssima adaptação e impacto negativo que o filme A Guerra dos Mundos causou não só a mim, mas à maioria esmagadora que teve o desprazer de assistí-lo.

O que deu errado com o filme?

O filme começa nos apresentando Will Radford (Ice Cube), um analista de segurança cibernética da Agência de Segurança Nacional dos EUA. Will aparece monitorando várias câmeras de segurança espalhadas pela capital estadunidense e já nos primeiros 5 minutos, conseguimos vislumbrar uma edição extremamente amadora, que remonta a vídeos do YouTube em meados de 2014 ou mais antigos. Ao tentar transmitir a imagem de um personagem extremamente sério que mexe com documentos sensíveis da privacidade dos cidadãos, o filme não passa credibilidade alguma com aquilo que se assemelha à uma apresentação de slides.

A edição acaba por ser uma constante desde o primeiro instante, já que ela é constantemente ruim e agrega negativamente com a narrativa. Mistura-se a edição com uma enorme suspensão de descrença que o telespectador deve criar quando for assistir a esse filme. Essa suspensão nada mais é do que aquele momento em que voluntariamente o público aceita como verdadeiras as premissas fantasiosas de uma obra de ficção. Torna-se impossível, até com a maior das suspensões, de acreditar que é possível hackear a vigilância alheia apenas digitando “desbloquear tal senha” ou “desbloquear tal câmera” em um painel de comando.

Outra constante são os efeitos (ou defeitos) especiais. A partir do momento em que o filme se propõe a dar uma virada na história, que é quando os meteoros começam a cair na Terra, o péssimo efeito especial de algo que deveria representar uma catástrofe, perde totalmente o seu peso como algo grave e um possível risco aos personagens.

Sobre o roteiro, ele é expositivo a um nível que, assistir ao filme enquanto se faz qualquer outra coisa se torna uma tarefa extremamente fácil. Os personagens não tem nenhum tipo de pensamento, já que eles descrevem absolutamente tudo que está acontecendo ou que ele vai fazer. 

Dois exemplos marcantes são o falecimento da esposa do Will e a inserção de uma propaganda. Na questão da esposa, é repetido, mais de uma vez, que ela faleceu há alguns anos e ele sente sua falta, mas isso não é mostrado e sim falado, já que seus próprios filhos aparecem em tela e o lembram de que ele está viúvo. Na questão da propaganda, em uma cena que a filha do Will está procurando abrigo, ele olha, por meio de um drone, os possíveis caminhos para que ela fique em segurança, até que a seguinte frase é dita: “Você vê aquele TESLA na sua frente? Preciso que pegue-o!”. Provavelmente, nessa situação de completo caos e destruição, seria muito mais complicado falar “Está vendo aquele carro branco?”, do que citar o modelo especificamente posicionado para aquela cena em especial.

Seria hipocrisia de minha parte falar que as publicidades em geral atrapalham a experiência de um filme, levando em conta que todas as grandes produções de Hollywood possuem alguns momentos dedicados a isso. Entretanto, na maioria das vezes, os realizadores buscam manter a propaganda de uma maneira mais velada, para não destoar do restante da história e desconcentrar o público.

Após a invasão, se desdobram uma série de consequências pessoais e profissionais aos personagens que não criaram nenhum tipo de relação com o público e nenhuma química entre eles mesmos. O saldo geral é negativo tanto para a trama, quanto para os efeitos especiais, personagens, atuações e decisões de roteiro.

A recepção foi uma das piores da história em sites como Rotten Tomatoes, no qual o filme entrou para a não tão desejada lista dos 100 piores filmes presentes no banco de dados do portal. Contudo, as críticas negativas tanto do público, quanto dos profissionais especializados, parece não ter afetado o sucesso que A Guerra dos Mundos tem feito no streaming do Prime Video, já que o filme está entre os 10 mais vistos da plataforma e tende a permanecer por algumas semanas.

Portanto, após destrinchar vários dos detalhes que quase me impediram de terminar o filme, cheguei à conclusão de que a obra é uma das piores produções do ano de 2025. O segundo semestre do ano começou há pouco tempo, entretanto, assim como na coluna do melhor filme do ano, esse texto pode ou não ter uma data de validade, pois A Guerra dos Mundos é o pior filme de 2025, até segunda ordem.

 

A Guerra dos Mundos (2025). Reprodução: Universal Pictures


Allan Victor

Formando do curso de jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Fundador do canal do YouTube sobre cultura pop e história intitulado Pop Show TV.

Comentários

Mega Conversa





Instagram

Facebook