Eu gosto mesmo é de gente desassombrada
Há alguns anos, depois de assistir a uma peça de teatro, fiquei no meio do elenco, pois um dos atores é meu amigo e me apresentou a todos os colegas. Eu estava encantada com aquela turma! Conversa vai, conversa vem, ouvi alguém dizer que a filha de um dos artistas, uma garotinha de aproximadamente oito anos de idade, que também ia e vinha no cenário e brincava entre os figurinos, já era desassombrada e certamente cresceria sem estranhamento, pois estava ali, convivendo com pessoas de diferentes regiões, religiões e gêneros. Achei aquilo tão maravilhoso! Desassombrada! Nunca mais esqueci essa palavra. Era a definição perfeita para aquela menininha que realmente estava em casa, naquele ambiente de arte, cultura e pluralidade.
Me lembrei desse episódio há alguns dias, enquanto conversava com uma amiga. Falávamos sobre intolerância em relação à fé e eu comentei que na minha playlist religiosa tem músicas católicas, evangélicas e alguns pontos de umbanda. Eu, católica apostólica romana, ouço tudo sem qualquer discriminação, prestando atenção naquilo que me interessa: a mensagem. Aos meus filhos, que de vez em quando fazem alguma brincadeira perguntando sobre o meu catolicismo, respondo também brincando: sou ecumênica! É claro que alguém que possui um credo não precisa gostar ou saber tudo das outras crenças, mas tem que respeitar. Aliás, o respeito (que é bom e todo mundo gosta) é necessário também para com ateus e agnósticos.
Por definição, preconceito é uma idéia preconcebida sobre algo que não conhecemos e muitas vezes se baseia em estereótipos. Toda aversão ao que é diferente nasce da ignorância, por isso penso que devemos ter sempre um pouquinho de curiosidade sobre tudo o que é importante. E em relação ao que não nos é familiar, quando entendemos minimamente, evitamos julgamentos e afastamos qualquer visão equivocada.
Refletindo sobre essas questões, percebi que as minhas melhores relações são aquelas com as pessoas que não se escandalizam com a diversidade, seja ela de qual tipo for! Meus amigos são desassombrados, do mesmo jeito daquela garotinha a quem nada causava medo ou espanto. Como na música de Erasmo Carlos, gente certa é gente aberta!
