Crítica: Quarteto Fantástico - Primeiros Passos faz o simples bem feito

Movido por grandes expectativas e promessas, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos enfim chegou aos cinemas na última quinta-feira (24). Sob a direção de Matt Shakman e com roteiro de Eric Pearson, Josh Friedman, Ian Springer e Jeff Kaplan, a nova adaptação da primeira “família” da Marvel prometia contar uma história independente, praticamente desvinculada das demais produções do estúdio — portanto sem exigir pré-requisitos narrativos.

Os trailers e teasers mostraram que a originalidade do filme ia além da história, pois conseguiram transmitir ao público o quanto a obra também se destacava esteticamente. A cidade retrofuturista, no melhor estilo Jetsons, apresentava uma visão quase antagônica ao Universo Cinematográfico Marvel (UCM): mais colorida, mais inspirada, com maior cuidado na concepção e, de certo modo, produtiva para o desenvolvimento da trama.

A nova versão do grupo de heróis acompanha Reed Richards (Sr. Fantástico), Susan Storm (Mulher Invisível), Johnny Storm (Tocha Humana) e Ben Grimm (Coisa) quatro anos após o acidente que lhes concedeu poderes. Agora, eles precisam enfrentar a ameaça cósmica de Galactus, o Devorador de Mundos, que, em poucos dias, consumirá a Terra por completo.

A virtude de uma “história isolada”

O fator “história isolada” foi determinante para a produção desse filme, pois o mesmo não possui nenhuma amarra narrativa, visual ou até sonora. Isso abriu margem para que a trama não fosse obrigada a se ater a acontecimentos passados do UCM e nem depender de uma cena pós-crédito impactante para sustentar a obra. Embora a narrativa não reinvente a roda, esse fator novidade é bem-vindo para a crise de superprodução causada pela Marvel Studios.

Graças à essa novidade, o filme conseguiu trabalhar com um maior esmero os seus aspectos técnicos. Os efeitos visuais, o design de produção e a trilha sonora são os maiores destaques de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos. Ao decorrer do filme, os mais de U$200 milhões em orçamento se justificam, pois é visível a atenção dada para o lado visual.

Em questão de roteiro, ele é muito mais sério, direcionando a obra muito mais para uma ficção científica com drama do que um filme de ação e aventura. A preocupação dos personagens e a ameaça construída realmente transmitem ao público a sensação de impotência frente ao desconhecido.

Por fim, as atuações são sólidas o suficiente para que realmente o público acredite que aquilo se trata de uma família de fato. Cada personagem tem as suas próprias características individuais e a partir delas conseguem agregar ao grupo, sem ter que apelar para caricaturas.

Foto: Divulgação/Marvel Studios

O maior defeito é justamente o que o filme não faz

Talvez o maior defeito de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos seja justamente falar mais do que mostrar. A abertura do filme criativamente apresenta cada um dos protagonistas através de um programa de talk show, em que o apresentador explica, com imagens ilustrativas, qual a especialidade de cada um e como funciona a dinâmica do grupo. Muito se é falado, mas pouco é mostrado sobre como o trabalho em equipe deles ajudou a manter a paz no mundo.

A divisão de protagonismo entre os quatro membros da família não foi satisfatória e a impressão é de que tiveram que cortar diversas cenas para que o filme tivesse menos de duas horas. O Coisa acabou ficando de certo modo escanteado, justamente por não terem dado ao personagem um momento para brilhar. Por outro lado, Reed Richards conseguiu convencer como “o homem mais inteligente do mundo”, Sue Storm exerceu de forma magistral o papel de mãe e Johnny Storm foi além de apenas um alívio cômico.

Os poderes, tão icônicos e presentes no cerne de cada membro da família, não foram bem explorados, pois não houveram os grandes feitos que só eles conseguem proporcionar. Sem algo mostrado por meio de uma cena de ação, o público acaba se contentando apenas pelas falas e artifícios de roteiro utilizados para tentar convencê-lo de que aquele grupo é poderoso.

Em suma, o filme agrada no seu visual e no seu som, os personagens conseguem transmitir a ideia de uma família unida e a experiência como um todo é sim boa. Acredito que o cinema pode engrandecer os aspectos técnicos da obra, mas outras questões, como a história e a sucessão dos eventos, não reinventam em nada o cinema de super-heróis, pois apostam no simples bem feito, e nada além disso.


Allan Victor

Formando do curso de jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Fundador do canal do YouTube sobre cultura pop e história intitulado Pop Show TV.

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