O melhor filme do ano, até o momento

Em abril deste ano fui felizmente surpreendido por um dos filmes mais originais e únicos lançados em anos. Pecadores foi um achado, e essa sensação não foi única para mim, levando em conta que o filme é independente e foi idealizado e produzido por Ryan Coogler, um dos diretores mais autorais e com mais personalidade dentro da indústria.

Talvez o nome não soe tão familiar, mas suas obras com certeza são. Foi ele quem dirigiu filmes como Pantera Negra, Judas e o Messias Negro e a trilogia Creed: um filme de super-herói, um thriller criminal e a continuação da saga Rocky, respectivamente. Embora sejam filmes com gêneros e histórias diferentes, os três conversam entre si ao mostrar, à sua maneira, a cultura e a ancestralidade afro-americana, sendo essa a principal assinatura de Ryan Coogler.

Creed 3. Reprodução: Warner Bros. Pictures

Pecadores, em seus temas abordados, não se difere do restante da filmografia do cineasta. Entretanto, o gênero do filme se destaca quando comparado ao restante, por misturar terror, suspense e “máfia” no formato de um musical, em que a trilha sonora dialoga de forma magistral com o enredo. Não existiria Pecadores sem a relação que o roteiro constrói da música, em especial o blues, como uma ponte para se libertar e expressar a ancestralidade.

O blues em si já é um estilo musical que carrega a espiritualidade proveniente do continente africano. Esse gênero é muito associado à comunidade afro-americana do sul dos Estados Unidos e desde seu surgimento era tratado como uma “música do diabo” por contrastar com os valores cristãos conservadores americanos do final do século XIX.

A partir do momento que o filme se transforma em terror e suspense, a grande metáfora que os vampiros acrescentam na narrativa é sobre a invasão e a apropriação cultural. A escolha pela figura do vampiro como antagonista é feliz pelo fato de que a principal especialidade dessas criaturas é sugar o sangue de suas vítimas, assim como o mundo ocidental historicamente fez a dicotomia entre discriminação e apropriação de expressões artísticas afrodescendentes.

Não só de alegorias vive o filme, pois além do subtexto e sentido conotativo que Pecadores carrega, ele também é, acima de tudo, um filme muito bem executado. A ação, o terror e o suspense funcionam, os personagens são bem aproveitados ao decorrer da trama e os aspectos técnicos, especialmente o som e a trilha sonora, causam o impacto e a emoção necessários, fazendo com que o filme seja o melhor lançamento do ano, até o momento.

Pecadores. Reprodução: Proximity Media


Allan Victor

Formando do curso de jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Fundador do canal do YouTube sobre cultura pop e história intitulado Pop Show TV.

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