O papa é pop

O pop não poupa ninguém.

Habemus papam! Esta foi a frase que parou o mundo na tarde de ontem (8) após a divulgação do resultado do Conclave, que elegeu Robert Francis Prevost como o novo papa. Robert, que escolheu o nome Leão XIV para liderar a igreja católica, sucedeu o papa Francisco, que faleceu em abril deste ano. 

O papa é pop. Quando a fumaça branca saiu da chaminé, jornais de todo mundo interromperam suas programações para trazer a boa nova, enquanto nas redes sociais também não se via outra coisa nos stories e publicações. Nesse momento, eu lembrei de uma das músicas que marcou minha infância, “O Papa é Pop”, dos Engenheiros do Hawaii, que conta a curiosa história de um papa tão popular que até mesmo foi alvo de um atentado e levou tiros à queima roupa. 

Isso realmente aconteceu, e foi com o Papa João Paulo II, em 13 de maio de 1981. Enquanto cumprimentava fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, o então líder da Igreja Católica recebeu dois tiros à queima roupa e, apesar da gravidade da situação, sobreviveu. O pop não poupa ninguém.

O conceito da palavra “pop”, que hoje é geralmente substituída por “trend” ou “viral”, vem da palavra popular, apesar de que algumas coisas da letra da música já não fazem tanto sentido hoje em dia, como olhar nas capas de revista. Mas para aquela época, os anos 80, as mídias tradicionais, como a TV, Rádio e as próprias revistas eram o local de confiança da população para saber sobre tudo o que acontecia. Estar em alguma dessas mídias, principalmente em mais de uma ao mesmo tempo, significava que você era pop. 

Daí que veio a ideia de gravar um disco meio que “brincando” sobre essa jogada, afinal, os próprios Engenheiros do Hawaii estavam em um processo de se tornarem os “novos pops”. O vocalista e principal compositor da banda, Humberto Gessinger, falou sobre isso na época em uma entrevista para a revista Bizz. 

“Essa ideia existia desde que o papa levou um tiro, era uma letra que falava 'o pop não perdoa ninguém'. Mas na época era super difícil falar do pop porque eu não fazia parte, a banda era pequena ainda. Mas desde o ano passado, o pop se tornou mais real para nós. A tecnologia levou a isso, onde tudo é pop. Bem, nós amadurecemos nesse último ano e aprendemos a assumir o lado pop”, contou Gessinger.

Em uma outra entrevista, Humberto deu mais detalhes sobre ter escolhido o papa como a imagem central da faixa.

“Eu já tinha feito essa música, mas não dava muita importância para ela, até que um dia eu lendo a (revista) Veja, eu vi uma foto do (Leonel) Brizola no escritório dele, e atrás dele tinha um pôster do Papa tomando chimarrão e eu disse 'olha ali, cara! O Papa é pop mesmo! Quando ele vai pro Sul ele toma chimarrão, quando vai pro Nordeste ele põe aquele chapéu de nordestino, e eu disse 'pô, esse cara é mais pop do que todo mundo!'"

O disco, curiosamente, consolidou a imagem pop do Engenheiros. O pop não poupa ninguém, nem o papa, quem dirá poupar uma banda. Lançado em 1990, além da faixa-título, o álbum ainda emplacou outros sucessos como “Pra Ser Sincero” e “Era um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”. O “Papa é Pop” vendeu mais de 350 mil cópias em um período de um ano, recebendo o certificado de disco de platina. 

Apesar de interligar a futilidade do pop com a imagem do Papa, Humberto argumentou que a canção não é problemática. "Muitas bandas fizeram músicas falando mal da Igreja diretamente. A nossa é super sutil, e é a favor do Papa. Se houver algum problema eu retiro, porque sou supercatólico. Não é brincadeira, é super sério. Se o Papa tem coragem de tomar chimarrão em Porto Alegre, ele tem de ter coragem de estar na capa do disco do Engenheiros", disse o vocalista, novamente para a Revista Bizz. 

A título de curiosidade, uma das bandas que fizeram música falando mal da Igreja diretamente foram os Titãs, que em 1986, no disco “Cabeça Dinossauro”, lançaram a faixa “Igreja”. A letra é bem direta meeesmo. 

“Eu não gosto de padre, eu não gosto de madre

Eu não gosto de frei, eu não gosto de bispo

Eu não gosto de Cristo, eu não digo amém”.

Mesmo assim, o Cabeça Dinossauro foi super bem comercialmente. É um dos maiores sucessos em números de vendas e em relevância na carreira dos Titãs. 

Seja a favor ou contra o Papa, ele é pop desde a era “Depois de Cristo” – literalmente, já que o primeiro Papa da história da Igreja Católica foi Pedro, um dos apóstolos de Jesus. O Papa Leão XIV assume a missão de exercer sua tarefa na sociedade mais pop de todos os tempos, com cliques rápidos em fotos e vídeos curtos. O pop vai poupar o novo Papa? 


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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