Ancelotti reafirma o complexo de vira-lata dos brasileiros
Ancelotti, técnico do Real Madrid.Reprodução/X @realmadrid
Após a saída de Dorival Jr, a seleção brasileira volta à saga da busca por um técnico. Já foram cogitados muitos nomes, e a nacionalidade não é um problema, até porque Jorge Jesus, Abel Ferreira e Pep Guardiola aparecem na lista. Da mesma forma, não foram descartados treinadores brasileiros, como Renato Gaúcho, Rogério Ceni e Roger Machado. No entanto, o preferido de Ednaldo Rodrigues desde a saída de Tite sempre foi Ancelotti.
Carlo Ancelotti dispensa apresentações, mas, para os menos “chegados”, ele é um técnico que foi campeão por onde passou, e olha que não viajou pouco!
O italiano possui pelo menos um título nas cinco principais ligas europeias:
Serie A (Itália): 1 (2003/04)
Premier League (Inglaterra): 1 (2009/10)
Ligue 1 (França): 1 (2012/13)
Bundesliga (Alemanha): 1 (2016/17)
La Liga (Espanha): 2 (2021/22, 2023/24)
Além disso, é multicampeão da principal competição entre clubes do planeta, com cinco títulos da Champions League no currículo.
Com esse histórico, é impossível negar que o treinador tem prestígio suficiente para assumir a seleção brasileira e com certeza seria muito bem aceito pela torcida canarinho, principalmente pelo seu trabalho recente no Real Madrid, onde impulsionou Vinicius Junior, que teve a temporada passada como melhor do mundo. Ao lado dele, Rodrygo, outra peça crucial brasileira no time merengue, que também evoluiu bastante sob o comando do técnico.
Após a saída de Tite em 2022, a seleção brasileira viveu uma rotatividade constante de treinadores. Ramon Menezes assumiu interinamente, seguido por Fernando Diniz, que comandou o Fluminense e a seleção Canarinho no mesmo tempo, enquanto se aguardava Ancelotti, que nunca chegou. A situação só se resolveu com a contratação definitiva de Dorival Júnior.
Foi um período turbulento, marcado por três derrotas consecutivas nas Eliminatórias (para Uruguai, Colômbia e Argentina), eliminação nas quartas de final da Copa América para o Uruguai e, para fechar com chave de ouro, uma expressiva goleada de 4x1 sofrida para o maior rival.
Voltamos a ficar sem treinador, e Ancelotti naturalmente retorna como principal alvo, após uma negociação que fracassou de maneira vergonhosa em 2023. Na ocasião, Fernando Diniz havia assumido como interino, com o plano de passar o “bastão” para Ancelotti em janeiro de 2025. Ednaldo Rodrigues tratou o acordo como certo, e o técnico italiano demonstrou interesse na seleção brasileira. Porém, tudo foi encerrado quando o Real Madrid negou a liberação, renovando com o treinador até junho de 2026.
Retornamos ao mesmo cenário: Ancelotti vive agora um momento de crise na Espanha, eliminado nas quartas de final da Champions League, vice-campeão da Copa do Rei para o maior rival e com risco real de perder o título espanhol. Mais uma vez, a CBF apostou no técnico italiano; mais uma vez, houve resposta positiva; mais uma vez, a mídia (agora em escala global) deu o acordo como certo; e mais uma vez, o Real Madrid impediu a negociação. No duelo entre Florentino Pérez x Ednaldo Rodrigues, o gestor brasileiro nunca vai ter chance, muito menos a preferência.
Ancelotti, por sua vez, sempre recusou a Seleção Brasileira em declarações públicas, mesmo permanecendo em contato com representantes da CBF. Algo a se questionar e que me fez entender que o Brasil não passa de um plano B para a carreira do treinador e que nós, aparentemente, aceitamos ser a segunda opção. O famoso “complexo de vira-lata”, termo popularizado pelo escritor e jornalista Nelson Rodrigues após a eliminação do Brasil para o Uruguai em pleno Maracanã na Copa de 1950. Vamos esperar sempre por Ancelottis, Guardiolas, e tudo bem contar com o trabalho dos maiores técnicos da história do futebol, mas se submeter a determinadas situações vexatórias, creio que não vale a pena.
Mas situações extremas exigem soluções extremas. Vale a pena essa humilhação por mais uma estrela na camisa? Vale a pena recusar modificações estruturais na própria CBF em troca de um título improvável de Copa do Mundo? 'Futebol: o ópio do povo!', mais uma vez refletindo bem, algo bastante presente na sociedade.
E lá vamos nós de novo. De acordo com o jornal inglês The Athletic, Ancelotti e o Real Madrid planejam a rescisão de contrato do treinador, que ficará livre logo após o encerramento da temporada europeia. 'Pra gringo é mais caro'. A oferta da CBF é de 5 milhões de reais mensais para Carlo, seria o treinador de seleções mais bem pago do mundo. Mas trazendo o hexa e a alegria para bem mais de 5 milhões de brasileiros que mal têm.

Talles Rocha
Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e narrador esportivo. À frente do canal Talles Rocha, no YouTube, com análises e opinião sobre futebol.@talles.rocha1 (Instagram)