Trabalhar dá trabalho - mas fingir que não cansa dá mais ainda

As vilas Branca (Susana Vieira), Cristina (Flávia Alessandra), Nazaré (Renata Sorrah), Carminha (Adriana Esteves), Maristela (Lília Cabral), Raquel (Glória Pires) e Vanessa (Letícia Collin - Manuella Mello/Rede Globo

No Brasil, a criatividade sempre foi um dos nossos maiores ativos — e, ainda assim, continuamos pedindo aumento. A TV Globo, por exemplo, comemorou 60 anos com um show em que fez algo raro: riu de si mesma. Reuniu o que tem de melhor, relembrou o que já foi pior, e até trouxe Regina Duarte de volta ao palco, como quem diz: “você pode negar a cultura, mas não nega um VT com boa audiência”.

Enquanto a classe trabalhadora por trás do entretenimento fez o que sabe melhor: dançar entre o gênio e o cansaço, Lady Gaga desembarcava no Brasil com divulgação real quase nula. Faltou comunicação, sobrou aclamação. Porque quando a estrela pisa aqui, quem pode bota um cropped e vai — mesmo que tenham avisado menos para conter o tanto.

Do outro lado, votações, mesmo que em reality shows, continuam funcionando como espécie de espelho torto do país. No BBB25, Guilherme foi o escolhido do povo — o que votou uma vez só, entre uma tarefa e outra. Mas o trono ficou com quem teve mais torcida, tempo e wi-fi como labor. É como no Brasil real: quem tem estrutura, vence. Quem tem apoio, resiste. Quem tem trabalho… trabalha. E muito.

E por falar em resistir, Thais Carla fez bariátrica. Não por estética, mas por saúde. E isso bastou pra surgirem mil dedos apontados — da ala fitness à militância confusa. A mesma internet que prega liberdade cobra coerência com base nos seus próprios rótulos. Mas ninguém pergunta o que dá mais trabalho: sustentar um corpo grande no mundo gordofóbico, ou bancar uma mudança tão íntima num palco tão público?

No núcleo jovem-adulto-tragédia-grega, Bia Miranda deu à luz prematuramente. E enquanto a filha lutava pela vida na UTI, o pai negava, depois assumia, depois registrava. Parece que o perdão dela anda mais fácil para o Gato Preto do que pra própria mãe. A maternidade é sempre um tipo de emprego que não oferece férias, mas sobra cobrança — especialmente quando a hierarquia familiar entra em greve deixando um quê de dependência emocional.

E no fim de tudo isso, entre uma vilã ressuscitada na novela e uma diva pop nas areias de Copacabana, o país assina mais um ponto.

O Brasil é essa grande empresa onde o chefe falta, o RH é confuso, e o happy hour vira protesto. Mas a gente segue — cansado, sim, mas criativo. E com a certeza de que trabalhar dá trabalho. Mas fingir que não cansa dá bem mais.


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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