A vida imita a arte: o inevitável sucesso de Conclave

No dia 21 de abril, toda a comunidade católica ao redor do mundo ficou de luto por conta da morte do Papa Francisco. O papa, que havia sucedido Bento XVI em 2013, foi o primeiro pontífice latino-americano da história, além de ter sido o primeiro não europeu em mais de mil anos a ocupar o cargo.

Por outro lado, o filme Conclave foi lançado no último trimestre de 2024 e a história narra justamente uma série de acontecimentos envolvendo um conclave (reunião entre cardeais para eleger um novo pontífice) após a morte do papa. O longa havia recém chegado ao streaming, e já um dia após a morte de Francisco, ele foi o mais assistido no Brasil e registrou uma alta de 283% em sua audiência mundial.

Reprodução: FilmNation Entertainment

A ficção

A história é experienciada pelo olhar do cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), que vivencia um clima intenso de corrupção, narrativas mentirosas e acima de tudo, o interesse individual se sobressaindo ao interesse público no Vaticano. Embora o filme seja a adaptação de um livro fictício de mesmo nome, ele se assemelha à algumas das denúncias mais famosas na história dos papas, como o Vatileaks, de 2012, que precedeu a renúncia de Bento XVI e o banimento do cardeal Angelo Becciu pelo Papa Francisco em 2020.

Durante o desenrolar da obra, a percepção transmitida ao telespectador é de que um conclave gira muito mais em torno da política do que sobre a religião em si. Um monólogo realizado pelo cardeal Lawrence denuncia a certeza como principal indicativo ao erro. “A certeza é a grande inimiga da união. Certeza é o inimigo mortal da tolerância. Nem mesmo Cristo tinha certeza no final: ‘Meu Deus, por que me abandonaste?’, ele chorou em agonia, na nona hora na cruz. Nossa fé é uma coisa viva, porque anda lado a lado com a dúvida”, discursou durante o anúncio do início do conclave.

A vida imita a arte e, exclusivamente neste caso, o contrário também acontece. Quando é a arte que imita a vida em si, ela pode passar a ser algo além de uma leitura e consequente construção social da realidade e se tornar uma forma sutil e eficiente de alertar para os próprios problemas da sociedade humana.

A realidade

O contexto atual ainda é de luto pela perda do Papa Francisco. O seu legado irá perdurar pelas próximas décadas não só por ter sido o primeiro pontífice latino-americano, mas aquele que levantou pautas sociais de extrema relevância para o mundo inteiro.

O Vaticano anunciou na segunda-feira (28), após a Congregação Geral (reunião entre cardeais), que o conclave começará no dia 7 de maio. Dentre alguns dos cotados para a sucessão, estão os cardeais Pietro Parolin (Itália), Matteo Zuppi (Itália), Pierbattista Pizzaballa (Itália), Péter Erdő (Hungria), Luis Antonio Tagle (Filipinas), Fridolin Ambongo Besungu (Congo) e Robert Sarah (Guiné-Bissau).

Existem algumas incertezas sobre o modus operandi do próximo papa: se virá a ser alguém que dará seguimento às medidas adotadas por Francisco ou alguém que irá no caminho oposto de tudo aquilo que o papado anterior construiu. No meio desse cenário, a única certeza que devemos ter é a da dúvida, pois a dita “grande inimiga da união” é o principal obstáculo para o equilíbrio e a harmonia.


Allan Victor

Formando do curso de jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Fundador do canal do YouTube sobre cultura pop e história intitulado Pop Show TV.

Comentários


Instagram

Facebook