O perigo escondido nas telas: o que os desenhos acelerados estão fazendo com o cérebro das crianças

  • Júnior Patente
  • Atualizado: 29/10/2025, 04:27h

Desenhos coloridos e cheios de ação parecem inofensivos. Mas, por trás do brilho da tela, há um risco silencioso que vem moldando o cérebro de milhares de crianças. A doutora Tamires Mariano, neurologista infantil de Fortaleza, faz um alerta que deveria preocupar todo pai e toda mãe: a exposição precoce e excessiva a telas está afetando o desenvolvimento emocional e cognitivo das novas gerações.

“Quando a criança assiste a desenhos com cores muito intensas, sons fortes e cortes rápidos, o cérebro entra em hiperestimulação. A cada cena, há uma descarga de dopamina — o hormônio do prazer. Com o tempo, o cérebro se acostuma com esse ritmo acelerado e passa a ter dificuldade em focar em atividades mais lentas, como brincar, ler ou conversar”, explica a especialista.

O impacto vai além do comportamento. A sobrecarga sensorial interfere diretamente na maturação cerebral. “O cérebro infantil ainda não tem filtros suficientes para lidar com tantos estímulos. Isso pode gerar irritabilidade, impulsividade e dificuldades para fazer transições entre atividades”, completa.

Sinais de alerta dentro de casa

A irritação quando a tela é retirada, o sono agitado, o atraso na fala e a falta de interesse por brincadeiras simples são sinais de que algo não vai bem. Segundo a doutora Tamires, esses comportamentos revelam que o cérebro da criança está se adaptando ao ritmo da tela — e não ao ritmo real da vida.

O perigo é maior até os cinco anos, fase em que as conexões cerebrais estão em formação acelerada. “Até os dois anos, o uso deve ser zero. Dos três aos cinco, no máximo uma hora por dia, e com conteúdos calmos, de cores suaves e mensagens positivas”, recomenda.

Nem todo desenho ‘educativo’ é saudável

A especialista alerta para um erro comum: achar que um desenho rotulado como educativo não faz mal. O que importa, na verdade, é o ritmo, o tipo de estímulo visual e o conteúdo emocional transmitido.

“Um bom desenho tem começo, meio e fim, ritmo leve e pausas que permitem à criança processar o que está vendo. Mesmo quando o conteúdo é educativo, assistir por horas causa prejuízo. O excesso sempre desequilibra o cérebro infantil”, destaca.

Telas sim, mas com consciência

Em tempos de correria, muitos pais recorrem às telas para manter os filhos ocupados. A doutora entende o desafio, mas reforça: “O segredo está no equilíbrio. Prefira a televisão, que mantém distância segura dos olhos, e evite o celular e o tablet. Defina locais e horários — nunca no quarto, durante refeições ou antes de dormir.”

A participação dos pais é outra chave. “Quando o adulto assiste junto, conversa sobre as cenas e transforma o conteúdo em brincadeira real, o aprendizado se multiplica. O cérebro aprende com vínculo e emoção, não com isolamento”, afirma.

Desenhos que inspiram e educam de verdade

Entre as produções recomendadas pela neurologista estão Bluey, Daniel Tigre, Franklin e sua Turma, Charlie e Lola, O Show da Luna, Au Animal, Pequenos Ilustres e Number Blocks — programas com ritmo calmo, temáticas positivas e foco em empatia, curiosidade e resolução de conflitos.

Para a doutora Tamires, a mensagem é clara: não se trata de proibir, mas de participar e moderar. “A tecnologia precisa ser mediada. O que forma o cérebro da criança é o vínculo, o brincar, o olhar e o afeto. Um desenho pode ensinar muito — mas o que realmente educa é a presença.”

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