Vitória da Conquista: 36 anos de silêncio quebrado: o Brasil ainda enfrenta a escravidão invisível

Foto: AFT
  • Júnior Patente
  • Atualizado: 24/09/2025, 11:14h

Na última quinta-feira (11), uma história de cortar o coração veio à tona em Vitória da Conquista. Auditores-Fiscais do Trabalho, em ação conjunta com o Ministério do Trabalho e a Polícia Federal, resgataram uma mulher que passou 36 anos sem receber um único salário.

Ela tinha apenas 10 anos quando foi entregue à família de empregadores. Desde então, viveu como se fosse invisível: limpava, cozinhava, cuidava da casa e ainda produzia comidas para a lanchonete dos patrões. Nunca teve férias. Nunca viu seu nome em uma carteira de trabalho. Nunca recebeu pagamento. Foram 36 anos de vida que não voltam.

E esse não é um caso isolado. Em Poções, outra mulher viveu algo ainda mais cruel: entregue aos patrões na infância, ficou 70 anos trabalhando para a mesma família, sem poder sair desacompanhada. Sofreu abuso sexual, engravidou e criou o próprio filho dentro da casa dos patrões — como se fosse parte de uma história que não podia escapar.

Esses relatos não são exceção — são sintomas de uma ferida aberta no Brasil. Só em 2024, mais de 2 mil pessoas foram libertadas de condições análogas à escravidão. E cada número dessa estatística tem rosto, nome, dor e uma história que poderia ser de qualquer um de nós.

O que acontece depois do resgate

Quando finalmente são libertadas, as vítimas têm direito a:

  • Receber tudo o que lhes foi negado – salários, férias, FGTS, cada centavo que nunca chegou às suas mãos.

  • Um seguro-desemprego especial, para que tenham como se manter enquanto tentam recomeçar a vida.

  • Apoio psicológico e profissional, para curar as marcas invisíveis e construir novas oportunidades.

  • Retorno seguro para casa, para que possam, enfim, viver com dignidade.

E os responsáveis?

A lei não fecha os olhos: reduzir alguém à condição análoga à de escravo é crime. O Art. 149 do Código Penal prevê de 2 a 8 anos de prisão e multa. Além disso, os empregadores são incluídos na temida “lista suja”, que os impede de acessar crédito e firmar contratos com o poder público, e ainda precisam pagar indenizações pesadas na Justiça do Trabalho.

A escravidão moderna só acaba quando alguém decide agir

Talvez agora, enquanto você lê estas linhas, alguém esteja passando pela mesma situação — perto da sua casa, no seu bairro, talvez na sua cidade. Para essa pessoa, a diferença entre mais um dia de silêncio e o começo da liberdade pode ser uma simples denúncia.

O Sistema Ipê recebe denúncias anônimas. Ninguém precisa se identificar. Mas cada denúncia pode ser o início de uma nova vida para alguém que foi privado de tudo, até do direito de sonhar.

Porque escravidão não é coisa do passado. É uma chaga que só se fecha quando todos nós decidimos não ser cúmplices.

Com informações da Rádio UP FM Conquista

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