11 de Setembro: o ataque que moldou o Século XXI e seus efeitos ainda vivos

Imagem: Spencer Platt/Getty Images
Em 11 de setembro de 2001, o mundo assistiu, em choque, às imagens das Torres Gêmeas em chamas. Mais do que um atentado terrorista, aquele foi um ponto de virada histórica que redesenhou a política internacional, a economia global e até o modo como vivemos e nos relacionamos. Duas décadas depois, as consequências daquele dia ainda ecoam em nossas guerras, em nossas crises de refugiados e até nas tensões políticas que marcam o planeta.
Um trauma coletivo e o fim da “era da inocência”
O impacto psicológico do 11 de Setembro foi tão profundo que se costuma dizer que o mundo perdeu a “inocência” naquele dia. A sensação de que o Ocidente era intocável desmoronou junto com os edifícios de Nova York. A partir dali, segurança passou a significar vigilância, e o medo se tornou um instrumento de mobilização política.
Guerras que se arrastam
A resposta dos Estados Unidos foi rápida: a chamada Guerra ao Terror levou à invasão do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003. Essas guerras, apresentadas como necessárias para a segurança global, acabaram se prolongando por anos, custando milhões de vidas — entre militares e civis — e desestabilizando regiões inteiras.
O vácuo de poder deixado após essas intervenções contribuiu para o fortalecimento de novos grupos extremistas, como o Estado Islâmico, e para ondas migratórias que até hoje desafiam a Europa. Quando observamos o drama dos refugiados sírios, afegãos e iraquianos tentando atravessar fronteiras, é impossível não relacionar parte dessa tragédia ao 11 de Setembro e às decisões tomadas em seu rastro.
A era da vigilância e da polarização
O 11 de Setembro também abriu caminho para um mundo mais vigiado e, paradoxalmente, mais polarizado. Leis como o Patriot Act ampliaram a capacidade dos governos de monitorar cidadãos. Em nome da segurança, liberdades individuais foram relativizadas.
Hoje, vivemos num cenário de hiperconexão digital, onde governos e corporações têm acesso sem precedentes às informações pessoais de bilhões de pessoas. Essa lógica de vigilância e controle alimenta tanto regimes autoritários quanto democracias em crise.
Conexões com o presente: Ucrânia, Oriente Médio e o avanço do autoritarismo
Ao olhar para o mundo atual, percebemos que os desdobramentos do 11 de Setembro ainda ajudam a explicar o cenário geopolítico. A guerra da Ucrânia, por exemplo, reacendeu o debate sobre alianças militares e o papel dos EUA como “polícia do mundo”. Já no Oriente Médio, conflitos como os de Gaza e Iêmen continuam a expor feridas abertas de décadas de intervenções.
O crescimento de regimes autoritários e de discursos nacionalistas também está ligado ao medo — medo do “outro”, do imigrante, do diferente. Essa mentalidade ganhou força no pós-11 de Setembro, quando comunidades muçulmanas passaram a ser alvo de preconceito e perseguição em diversas partes do mundo.
E o Brasil? Como o 11 de setembro nos afetou
Embora o Brasil não tenha sido alvo direto dos atentados, os efeitos foram sentidos aqui de várias maneiras.
Segurança nos aeroportos: A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a Infraero adotaram novas regras de inspeção e reforçaram protocolos de segurança. Detectores de metais, triagem de bagagens e controle de acesso às áreas restritas foram intensificados, tornando a experiência de embarque mais rigorosa e demorada — mudanças que permanecem até hoje.
Economia e mercado financeiro: No dia dos atentados, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) despencou, acompanhando a queda das bolsas internacionais. O dólar disparou, gerando pressão inflacionária e exigindo medidas emergenciais do Banco Central para conter a volatilidade. Setores como o turismo e a aviação sofreram com queda de demanda, e muitas empresas brasileiras tiveram de revisar planos de investimento.
Noticiário e percepção de risco: O 11 de Setembro também mudou a forma como a mídia brasileira cobriu o terrorismo internacional. Termos como “Al-Qaeda”, “Talibã” e “Guerra ao Terror” entraram no vocabulário cotidiano. Para muitos brasileiros, foi o primeiro grande evento global assistido em tempo real pela TV, impactando a maneira como se consumia informação e fortalecendo a cobertura ao vivo de crises internacionais.
Relações internacionais: O Brasil passou a participar de discussões globais sobre combate ao terrorismo, inclusive no âmbito da ONU, reforçando políticas de controle de fronteiras e cooperação de inteligência.
Reflexão necessária
Mais de 20 anos depois, o 11 de Setembro continua sendo um alerta. Ele nos lembra que decisões tomadas em momentos de medo podem ter efeitos duradouros, que guerras “preventivas” podem criar mais conflitos do que resolver, e que liberdade e segurança precisam andar juntas para evitar que se viva em um estado de exceção permanente.
Em um mundo em que novos muros são erguidos, refugiados são rejeitados e o extremismo ressurge em várias ideologias, talvez o maior legado do 11 de Setembro seja nos fazer refletir sobre como transformar dor em diálogo, medo em cooperação e conflito em construção de paz — inclusive no Brasil, que embora distante dos campos de batalha, não está imune aos efeitos desse mundo pós-2001.