O que cresci ouvindo: Raquel Dantas, autora do livro “A Conquista do Rock”, destaca o rock indie e alternativo entre os seus cinco discos favoritos

Nesta edição do “O que cresci ouvindo”, Raquel conta quais são os cincos discos mais importantes de sua vida, que começa com um clássico do Radiohead e vai até um nome da música local, reforçando sua valorização e cuidado com a cena da cidade.
A pesquisadora, baterista e artista visual Raquel Dantas. Foto: Arquivo pessoal
  • Danilo Souza
  • Atualizado: 09/08/2025, 10:31h

Um nome importante dos bastidores da música independente de Vitória da Conquista, Raquel Dantas é autora do livro “A Conquista do Rock”, lançado em 2017, obra que registra parte do cenário autoral do gênero e as histórias de diversas bandas da cidade. A artista divide seu tempo entre a música, tanto como pesquisadora quanto como instrumentista, sendo baterista, e a arte visual, produzindo desenhos e participando de exposições de arte.

A sua relevância e influência na cena é reconhecida. Raquel já foi curadora do Festival Suíça Bahiana, na edição de 2024, e já cedeu entrevistas na rádio e na TV para falar sobre os seus projetos. Com um gosto musical refinado, ela sempre tem uma banda ou um álbum para apresentar a alguém.

Nesta edição do “O que cresci ouvindo”, Raquel conta quais são os cincos discos mais importantes de sua vida, que começa com um clássico do Radiohead e vai até um nome da música local, reforçando sua valorização e cuidado com a cena da cidade. Leia a lista a seguir.

Radiohead - OK Computer (1997)

Terceiro disco dos ingleses do Radiohead – e o seu grande sucesso comercial – o “OK Computer”, lançado no fim da década de 90, mudou a carreira do grupo. Sonoramente, é um álbum com momentos melancólicos, como a aclamada faixa “No Surprises”, até coisas mais experimentais, a exemplo de “Airbag” e “Paranoid Android”. Já na parte lírica, as letras surgem a partir de temas como um mundo cheio de consumismo, capitalismo, alienação social e mal-estar político.

“Foi o disco que mais mexeu comigo, porque foi com ele que comecei a gostar de rock e ao meu ver o melhor disco da banda. Antes dele eu só ouvia música pop, grupos como Spice Girls e MPB (Chico Buarque) e não tinha nenhum estilo definido. Passei a ouvir também por influência do meu irmão [Gilmar Dantas], quando ouvia o CD em casa. Hoje o disco me traz uma sensação de nostalgia da minha adolescência, quando eu também comecei a ir para os shows de rock e ouvia covers do Radiohead por meio da finada banda conquistense Reason.”

Wado e o Realismo Fantástico – A Farsa do Samba Nublado (2004)

O Realismo Fantástico, grupo formado por Alvinho, Thiago Nistal e Sérgio Soffiatti, se uniu com o cantor Wado para a gravação do disco “A Farsa do Samba Nublado”, publicado em 2004. O álbum foi lançado neste modelo de parceria, ao invés de ser mais um disco solo do cantor, para valorizar os músicos e os ceder os devidos créditos de composição nas faixas. Esta é uma obra que mescla elementos da realidade com fantasia, aquilo que é fora do comum, o extraordinário. São canções que misturam o rock com a MPB, além de traços experimentais.

“Foi o primeiro CD que comprei. E foi quando comecei a gostar do som do Wado. É também um dos discos que ouço do início ao fim, sem pular uma música. É uma pegada meio rock meio samba, um passo inicial para que o meu gosto para o estilo indie alternativo tomasse forma. É um álbum relaxante e que você se sente bem ouvindo. Para mim, o Wado merecia ter tido o mesmo sucesso que o Los Hermanos teve.”

Vivendo do Ócio – Selva do Mundo (2015)

Publicado de forma independente, o disco “Selva do Mundo”, dos baianos da Vivendo do Ócio, possui doze faixas que trazem as características do Rock e alguns dos seus subgêneros, como o Alternativo e o Indie. Canções como “A Lista”, um dos singles do disco, mostram uma sonoridade de uma banda compondo em meio à estrondosa volta do Indie Rock no mundo todo com o “AM”, dos Arctic Monkeys, e que também tem muita referência de The Strokes em sua cerne. Para Raquel, o destaque vai para a faixa “Carranca”.

“O primeiro disco que fez com que eu aprendesse a amar o Vivendo do Ócio. É até hoje o disco mais maduro da banda, tanto pelas letras quanto pela sonoridade. Impossível até citar quais as melhores músicas, mas há uma, em especial, que lembra da minha história enquanto artista visual, e ela é Carranca. É a música mais suave do disco, com uma letra que impulsiona a gente seguir em frente e se jogar no nosso trabalho ou qualquer coisa que a gente faça, mesmo nas dificuldades. É pra descobrir o que a gente ama e deixar que isso nos mate de forma intensa e poderosa.”

Ventre – Ventre (2015)

Disco homônimo que marcou a estreia do trio carioca Ventre, formado por Gabriel Ventura, Larissa Conforto e Hugo Noguchi, este é um trabalho que traz características do rock alternativo e até um pouco da pós-MPB. As onze faixas, que somam quase uma hora de duração, tem uma energia intensa, com destaque para as canções “Carnaval”, “Bailarina” e “De Perto”.

“É uma sonoridade que gostaria de um dia poder fazer junto com uma banda, o que seria preciso muito estudo e técnica obviamente. É lógico que para além das letras bem caprichadas e o som da guitarra, o destaque e inspiração vem da baterista Larissa Conforto. Ela é maravilhosa! É um som que transcende, sai bastante do básico e comum que estamos acostumados no som indie nacional. A banda, infelizmente, acabou, pois foi uma das melhores que o rock nacional já teve.”

Os Barcos – Os Barcos (2010)

Banda da cena conquistense, o grupo Os Barcos surgiu em 2008, mas só dois anos depois, em 2010, que veio o álbum de estreia – que leva o mesmo nome que o conjunto. Além da importância musical, Raquel cita esse disco também pelas memórias afetivas, como os shows da banda no Viela Sebo Café. Nas plataformas de áudio, o grupo passou por um hiato após o lançamento do disco, que só foi terminar em 2021 com a publicação do single “Revolto”. No mesmo ano, eles se apresentaram no Festival Suíça Bahiana com uma participação especial de Nasi, vocalista do Ira!.

“Acho importante deixar registrado que, com exceção do EP da Ardefeto, banda antiga conquistense, nenhum outro disco local me fez cantar todas as músicas como o dos Barcos. Isso é muito raro! Tanto pra ouvir em casa quanto ao vivo, é a mesma energia. Não foi à toa que na época em que tocavam com a Maglore, os espaços lotavam, era bem a época de shows no Viela Sebo Café. É também um disco para ouvir do início ao fim. Não sei qual a melhor, mas tenho um carinho especial pelas faixas ‘Reverberar’ e ‘Teu Riso’".

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