Por que a Suécia recuou em modelo 100% digital e retomou uso de livros nas escolas?

Foto: Liberalerna.se
Durante anos, a Suécia foi vista como uma referência em inovação educacional. Um dos pilares dessa aposta no futuro foi a digitalização completa das salas de aula. Livros físicos e cadernos foram deixados de lado. Tablets e telas assumiram o protagonismo no aprendizado de crianças e adolescentes.
No entanto, o que parecia um avanço acabou acendendo um alerta. Pesquisas e avaliações educacionais começaram a revelar que os estudantes suecos estavam aprendendo menos, escrevendo menos e apresentando dificuldades crescentes de concentração. Diante desse cenário, em 2023, o governo sueco tomou uma decisão emblemática: recuar na digitalização total e retomar práticas tradicionais da educação.
O Ministério da Educação da Suécia anunciou um investimento de 45 milhões de euros para recolocar livros impressos no centro do processo de aprendizagem e incentivar a escrita manual como ferramenta essencial no desenvolvimento cognitivo das crianças. A medida tem respaldo de especialistas em neurociência e pedagogia, que defendem que o cérebro infantil aprende melhor com experiências físicas e sensoriais, como o contato com o papel e o ato de escrever à mão.
A ministra da Educação sueca, Lotta Edholm, declarou à época que o objetivo é “fortalecer as habilidades básicas das crianças e garantir que consigam ler e escrever bem”. A decisão também vai na contramão de uma tendência crescente em diversos países, onde o uso de telas é cada vez mais comum nas escolas, muitas vezes sem um acompanhamento adequado dos impactos a longo prazo.
O que a ciência diz?
Estudos recentes indicam que o excesso de tempo diante de telas pode prejudicar o desenvolvimento da atenção, da memória e da linguagem, especialmente na primeira infância. A escrita manual, por outro lado, estimula áreas do cérebro ligadas à coordenação motora, ao raciocínio e à retenção de informações — habilidades fundamentais para o aprendizado.
E o Brasil?
Enquanto países como a Suécia reavaliam o papel da tecnologia na educação básica e retornam ao uso de livros e cadernos, muitos municípios e estados brasileiros seguem investindo fortemente na digitalização das salas de aula, com iniciativas que, em alguns casos, substituem completamente os materiais físicos.
A decisão sueca reabre um debate importante: qual o equilíbrio ideal entre tecnologia e métodos tradicionais na educação infantil? Para especialistas, não se trata de rejeitar o uso de telas, mas de compreender que educar exige tempo, presença e respeito ao ritmo do cérebro em formação.