Pipa fala sobre seu EP de estreia: “A mensagem principal é como é gostoso viver e sentir o amor”
Lançado no início de julho, o EP “Ela, o Mar e Eu” marcou a estreia de Pipa nas plataformas de áudio. A artista, de Vitória da Conquista, na Bahia, já é conhecida no cenário cultural alternativo da cidade e passou por outras bandas e coletivos até chegar ao seu tão esperado trabalho solo e autoral. “Estar no estúdio produzindo um álbum de músicas que foram escritas por mim foi um desafio […] mas também muito gostoso de experienciar!”, conta a musicista.
É um trabalho coeso, com início, meio e fim, o que foi uma prioridade para Pipa no processo de produção. Sobre o conceito e o que busca passar com o EP, ela relata: “A mensagem principal é o amor. Como é gostoso viver um amor, como é gostoso sentir o amor, às vezes é idealizado, às vezes é real mesmo.”
Nessa conversa, ela ainda fala sobre como está sendo o retorno do público a respeito das quatro faixas lançadas e o que vem por aí no futuro da sua carreira. “Um single e um videoclipe estão se desenhando para o próximo semestre, já para esse semestre a gente tá focando em shows.”
Veja o papo na íntegra a seguir.
Danilo: Pipa, primeiro quero te parabenizar pelo EP e por sua estreia oficial enquanto artista solo nas plataformas de áudio. O que o lançamento desse trabalho significa para você? Tem um peso pessoal, além do profissional?
Pipa: Todo o processo foi bem novo. Eu já tinha trabalhado outras vezes em estúdio, em colaboração com outros projetos ou sendo integrante de outras bandas, mas estar no estúdio produzindo um álbum de músicas que foram escritas por mim, arranjos pensados por mim, num projeto idealizado por mim, dentro da minha casa, no meu quarto foi um desafio. Mas também muito gostoso de experienciar!
Quando deu meia noite do dia 4 de julho, que eu vi [o EP] nas plataformas digitais, foi um negócio surreal, sabe? De ver uma coisa que antes eu nem sonhava e finalmente tava ali pra todo mundo ouvir, pra todo mundo ver, tá no mundo [pra] quem quiser ouvir. Foi muito, muito, muito bom mesmo.
Danilo: As quatro faixas parecem se conectar não só sonoramente, mas também nas temáticas das letras. Qual mensagem você quis trazer nessa sua estreia?
Pipa: A mensagem principal é o amor. Como é gostoso viver um amor, como é gostoso sentir o amor, às vezes é idealizado, às vezes é real mesmo, acontece. E [também] essa troca mística com a própria natureza do sentimento. Quando a gente tá falando e trazendo essa metáfora do mar, de ter medo do mar, de ter medo de viver essa aventura, de se lançar às vezes para algo novo também… todo relacionamento, independente da forma que seja ou com a pessoa que seja, se é romântico ou não, é sempre uma novidade, né? Cada cabeça é um mundo, é um universo, é um mar de possibilidades. Então é uma brincadeira também com isso, né? O amor romântico, a amizade, o afeto, as relações em si.
Danilo: Quanto à produção, você teve um time de peso ao seu lado. A começar pelo produtor, Diego Oliveira, conhecido e respeitado na música regional e até nacional. Como foi estar em estúdio com ele gravando as suas composições? Foi como você imaginava?
Pipa: Trabalhar com Diego foi fantástico, especialmente nesse sentido de direcionamento. Nós chegamos com as músicas previamente formatadas, a gente costuma trabalhar a banda no coletivo, eu não chego com os arranjos todos prontos e mostro para os meninos pra eles darem os toques deles, é construído coletivamente. [Para o EP] a gente sentou com Diego para explicar o que era o conceito e como essas músicas dialogavam entre si. Eu cheguei com esse desafio de falar “olha, eu preciso que essas músicas sejam coesas entre si”.
Tem uma música, a “Íris Negra”, que ela era completamente diferente de todas do repertório e durante o processo eu bati o pé falando “cara, essa música é assim, a gente tá estudando um outro formato para ela para encaixar com as outras” e Diego ainda tentou me convencer que daquela forma como ela era antes que dava pra encaixar. Eu falei “não, não vai, a gente precisa modificar”, e ele acatou muito isso e deu dicas valiosas de arranjos, inclusive.
Danilo: Outro ponto que moldou o som do disco foram os músicos que gravaram com você; a baixista Andresa Sampaio e os guitarristas Luget e Gui Piccoli. Eles te acompanham em algumas das suas apresentações ao vivo e já há uma conexão entre vocês. Essa conexão ficou mais forte após os meses de gravação no estúdio? É muito diferente dos palcos?
Pipa: A primeira coisa que nós fizemos juntos foi tocar e construir os arranjos. Eu cheguei com as músicas [numa versão] voz e violão e uma ideia e eu queria que esse som soasse de uma forma que eu não conseguia executar. Eu sempre visualizava muito bem o Luget tocando essas músicas e a gente construiu juntos versões que pudessem ser escutadas, a gente tava ali formatando as músicas, mas a gente não tinha muita oportunidade de tocar ao vivo [com a banda], então a maioria delas eu sempre estava tocando ao vivo, em voz e violão.
Entrar no estúdio com os meninos foi tranquilíssimo e foi muito bom de trabalhar, porque a gente já estava com todo esse repertório bem mastigadinho. A gente estudou tudo com muito cuidado, então os meninos já entraram no estúdio praticamente prontos e eu sempre brinco que eu acho que cheguei sendo a “mais ou menos”, que toca bateria há menos tempo e que canta há menos tempo, [enquanto] os meninos são muito experientes.
Danilo: Uma coisa a se destacar no seu EP é que todas as composições são feitas por mulheres. Além de você e a Andresa, Marlua e Fernanda Conegundes também assinam uma das faixas. De que forma elas somaram para o conceito que você criou nesse seu trabalho?
Pipa: Trabalhar com a Marlua é uma coisa que não consigo traduzir em palavras, porque a gente se conhece há muitos anos e temos uma proximidade em uma relação de afeto, de amizade, de amor, sabe, de ser amigas confidentes mesmo. Então, a gente convive muito e trabalhamos juntas também há muitos anos também, e às vezes até só no olhar mesmo a gente já capta a ideia uma da outra.
Eu já tinha essa proposta de sentar com ela pra mexer em algumas composições, a gente já colaborou na parte instrumental em outros momentos, [mas] nunca tínhamos escrito juntas, e “Íris Negra” nasceu num contexto em que a gente fez uma viagem especificamente para ter esse momento de imersão e a Nanda [Fernanda Conegundes] tava junto. E aí um dia eu acordei, estava com esse trecho dessa música lá há anos tentando terminar, e Fernanda chegou e escutou captando a mensagem. Ouvindo de fora, ela falou “acho que isso recorta aqui e complementa ali”, foi uma coisa que nasceu muito intuitivamente ali naquele momento até a hora que a gente terminou e finalizamos os arranjos.
É do próprio sentido de compartilhar o sentimento, de entender o que são essas emoções e como os relacionamentos nos afetam, né? Somos muito intensas na forma de sentir, então trouxe novos ares, mas ao mesmo tempo é uma coisa que já estava ali, na conexão do que já tinha de antes.
Danilo: Essas músicas estavam sendo muito aguardadas pelo público e eles provaram isso na semana de estreia. Você já está com mais de mil ouvintes no Spotify e com fãs em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, além de Vitória da Conquista e Salvador, na Bahia. Mas deixando os números de lado e pensando no impacto fora das redes, o que mudou em sua vida de fato desde o lançamento de “Ela, o mar e eu”?
Pipa: Acho que é uma mudança interna. Ter escutado [o EP] finalizado ali, para mim, já foi a realização do sonho mesmo, de escutar e falar “nossa, agora eu realizei aquilo que eu queria!”. E aí, quando foi lançado e as pessoas [estavam] ali [ouvindo] na mesma hora que foi lançado e [foram] aparecendo pessoas novas que eu não conheço, gente me seguindo, pessoas mandando mensagem… eu ainda tô tentando entender o que é isso que tá acontecendo.
Acredito que o caminho é esse mesmo. As pessoas escutarem e darem suas opiniões, a gente faz essa troca, pra mim isso é muito importante também, escutar o que as pessoas estão sentindo com aquilo que eu senti e eu coloquei no papel, é muito bom ouvir de volta.
Danilo: E a partir de agora, com o EP lançado, quais são os próximos passos? Já vai seguir compondo e publicando trabalhos de estúdio para se consolidar?
Pipa: Hoje em dia a gente lida com um mercado que exige estarmos apresentando novidades o tempo todo e eu tenho um ritmo lento de composição, isso às vezes me traz muitas angústias. Mas a gente tem uma equipe boa nesse momento de lançamento do EP, que é fruto de uma política pública, a Lei Paulo Gustavo. Então, agora a gente tem shows marcados e visualizamos também um lançamento de single para o próximo semestre, no ano que vem, e coisas estruturadas para acontecer nos próximos meses, enquanto essas apresentações acontecem.
Um single e um videoclipe estão se desenhando para o próximo semestre, já para esse semestre a gente tá focando em shows, estudando editais, o que tiver aparecendo. [Fazer] single eu gosto, mas eu realmente prefiro trabalhar mais com coisas [com um] conceito, eu já tô aí pensando como é que vai ser o próximo lançamento e um próximo EP.