Futebol baiano em colapso: tradição em queda livre e o grito do interior silenciado

Com apenas três clubes na Série D e nenhum nas Séries B e C, o Bahia vive seu pior momento no cenário nacional. Falta de apoio, visibilidade e gestão afundaram o futebol do estado — e o torcedor já não acredita mais.
O futebol da Bahia, outrara respeitado por revelar talentos e abrigar torcidas apaixonadas, vive hoje um processo de encolhimento dramático no cenário nacional. Em 2025, o estado ocupava apenas a nona colocação no ranking de representatividade do futebol brasileiro, atrás de praças como Santa Catarina, Paraná e Goiás — algo impensável há duas décadas.
A raiz desse colapso é antiga, mas continua sendo regada pela omissão institucional, centralização de recursos e pela falta de incentivo real aos clubes do interior. Durante anos, a estrutura do futebol baiano foi moldada para servir apenas a dupla Bahia e Vitória, enquanto o restante do estado foi rebaixado ao esquecimento competitivo.
Cotas, campeonatos vazios e clubes sem estádio
Nos bastidores, a crise é medida em números. As cotas de transmissão premiavam o Ba-Vi com valores quase dez vezes superiores aos dos clubes do interior — valores que, mesmo assim, são modestos quando comparados ao que é praticado em outros estados. E quando há campeonato estadual, o interior entra apenas como figurante. Não há premiação, visibilidade ou calendário garantido. O resultado? Campeonatos desmotivados, torcedores ausentes e atletas sem perspectiva.
Na Série D, o Bahia conta com apenas três representantes — nenhum nas Séries B ou C. Em um torneio que se arrasta por quase seis meses, o campeão recebeu apenas R$ 1,3 milhão em cotas da CBF. É menos de R$ 200 mil por mês, o que não cobre sequer o custo de montagem de um elenco competitivo para o campeonato estadual.
134 pagantes: o retrato da crise
A cena do último fim de semana foi emblemática: no confronto entre Juazeirense e ADJ, ambos na zona de classificação da Série D, apenas 134 torcedores pagaram rendimento, gerando uma receita de míseros R$ 1.340,00. E isso num jogo com disputa real por pontos. Como manter viva a chama do futebol assim?
Na Série B do Campeonato Baiano, a situação ainda é mais grave. A FBF aceitou clubes sem estádio aprovado, forçando partidas distantes de suas cidades de origem. O resultado foi a desistência de uma equipe nas rodadas finais, afetando diretamente a tabela e a briga pelo acesso. E mesmo com esse cenário precário, ainda se fala em criar uma Série C estadual em 2026. Para quê?
O fundo do poço chegou? Ou ainda tem como piorar?
A pergunta que não quer calar: estamos no fundo do poço ou ainda há espaço para descer mais?
Entre os estudiosos do futebol local, uma proposta ganha voz: a criação de uma liga independente dos clubes do interior, livre da tutela da FBF. A ideia é frustrada, mas acaba em problemas recorrentes, como gestão amadora de vários clubes de futebol, falta de planejamento e ausência de apoio institucional. E mesmo que a liga saia do papel, como negociar com a poderosa CBF uma vaga nas competições nacionais? Quem vai bancar essa revolução?
A discussão está aberta
A crise do futebol baiano não se resolve com promessas vazias. É hora de ouvir quem está na base, quem vive o cotidiano dos clubes, das arquibancadas vazias, dos gramados irregulares e dos sonhos empoeirados.
Você tem uma ideia, uma sugestão ou proposta para tirar o futebol da Bahia da UTI?
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Enquanto houver paixão, ainda há esperança.
Mas o tempo está passando — e o futebol baiano está morrendo.