Caio Aguiar Sirino aborda relações entre literatura e sociedade no podcast Correspondência Literária

O escritor Caio Aguiar Sirino segura seus dois livros, "Uma coisa chamada eu" e "Sonetos doídos, brinquedos queridos". Foto: Ane Xavier
O podcast Correspondência Literária recebeu na última segunda-feira (16) o escritor Caio Aguiar Sirino para uma conversa sobre sua trajetória, o processo criativo, referências literárias e a interseção entre sua carreira acadêmica e poética, explorando a relação do indivíduo com o mundo contemporâneo.
O Correspondência Literária é produzido e apresentado por Ane Xavier, com direção de áudio de Danilo Souza e publicação da Mega.
Com formação em Ciências Sociais e mestrado em Letras pela Uesb, Caio Aguiar Sirino descreveu sua jornada profissional como um mosaico que integra a docência e a literatura. Ele mencionou que a poesia o acompanha desde os 15 anos, afirmando: "Eu achava que todo mundo lia poesia. Eu achava também que todo mundo escrevia poesia. Mas não é exatamente assim: nem todo mundo lê poesia. Os poetas leem poesia e escrevem poesia, né? E a gente carrega isso como se fosse uma marca de nascença." A trajetória acadêmica, segundo ele, sempre esteve atrelada à sensibilidade poética.
A dissertação de mestrado de Sirino, focada no heavy metal brasileiro dos anos 1980, também foi abordada. Ele explicou que a pesquisa decifra os ícones e a iconoclastia presentes nas letras e capas do gênero, prevendo e antecipando crises da modernidade. Sirino relatou que o heavy metal provocou uma "revolução, uma rebelião dentro da gente, porque a gente consegue... a minha geração, no contato com o heavy metal, ela se sentia representada na medida que aquela linguagem agressiva".
O escritor estabeleceu uma ponte entre sua pesquisa e o livro "Uma Coisa Chamada Eu", que trata de um indivíduo adoecido pelo processo de aceleração do mundo moderno. "A gente nasce num modelo social, num modelo econômico e a gente não é preparado para compreendê-lo. E ele é muito agressivo de uma certa forma", pontuou Sirino. Ele complementou: "Uma característica marcante do capitalismo, que a gente tem pouca noção sobre isso, é a pressa e a velocidade. Nós produzimos a modernidade, uma doença que até então não existia, que é o chamado transtorno de ansiedade." Sobre a obra, ele disse: "O livro 'Uma Coisa Chamada Eu' não se trata necessariamente de mim ou somente da minha pessoa. É um livro que trata do nós." E ainda: "É um livro poético entranhado nas questões contemporâneas, nas questões da modernidade. Essas linguagens, as Ciências Sociais e da poesia se comunicam nesse livro." Para Sirino, a poesia é fundamental para o autoconhecimento e para a compreensão das forças sociais, religiosas, políticas e ecossistêmicas que envolvem o indivíduo, pois "Toda poesia trata do nós."
Ao abordar a relação entre suas facetas de professor e poeta, Sirino destacou que, ao entrar no Instituto Federal, onde leciona há mais de 20 anos, assume a persona do "Caio Professor", um indivíduo centrado e técnico. Ele explicou: "Eu fiquei muito mais profissional quando, há 10 anos atrás, uma década atrás, eu comecei a distinguir o profissional do subjetivo e do pessoal." Essa distinção visa otimizar o desempenho e manter questões pessoais fora da sala de aula, que, para ele, "não é definitivamente um ambiente de psicoterapia."
O processo criativo de Caio passou por fases, desde o romantismo adolescente até a "poesia maldita", influenciada por autores como Augusto dos Anjos, Álvares de Azevedo, Baudelaire e Rimbaud, além da música heavy metal. "A poesia transita, né? Perceba, transita entre poesia maldita, poesia ultra-romântica, poesia existencialista, poesia filosófica. Ela faz essa síntese de quem eu sou desde que eu nasci até o atual momento", observou. A escrita, especialmente de sonetos, é para ele um trabalho árduo: "O processo de construção poético e o que eu ousei fazer sonetos... é muita transpiração." Ele detalhou: "Depois que a inspiração, digamos assim, o ímpeto de escrever, ele é colocado no papel, você fala assim: 'Agora eu preciso polir. Agora eu preciso limar. Eu preciso lixar. Eu preciso passar um verniz. Eu preciso dar uma pintura, acrescentar um acabamento'."
A rebeldia e a transgressão são elementos constantes em sua produção. "Em tudo que eu faço existe rebeldia. Rebeldia. É a forma que eu encontrei de envelhecer melhor e de me vincular ao que eu chamo de a vida melhor vivida", declarou. Sirino abordou ainda a dor, afirmando que "A dor é parte constituinte da condição humana. Aceitar dor, primeira coisa, deixar a dor entrar, permitir que ela dialogue com você." Para ele, "A dor bem elaborada, ela é parte constituinte da beleza." Em sua visão, "a vida boa é uma vida simples, não há necessidade de muita coisa, muitos objetos, muita quinquilharia para nos tornar a existência possível e maleável, viver de forma simples, se ater aquilo que realmente importa." A sabedoria máxima, conclui, reside em "buscar saber morrer, conquistar a possibilidade de uma boa morte."