Gato por lebre: como produtos “disfarçados” enganam o consumidor e o que fazer para evitar

Reprodução Instagram Davi Laranjeira
Você já comprou um chocolate que parecia… menos chocolate? Ou um queijo ralado que mais parecia pó de alguma coisa? Se sim, você provavelmente caiu em uma das armadilhas mais comuns do mercado: comprar gato por lebre — expressão popular para descrever situações em que o consumidor é induzido ao erro.
Seja por embalagens chamativas, rótulos confusos ou nomes criativos, muitos produtos vendidos nos supermercados não são exatamente o que prometem. A boa notícia? Com informação e atenção aos detalhes, dá para evitar essas ciladas.
O Chocolate Que Não É Chocolate
Muitos consumidores se surpreendem ao descobrir que aquele “chocolate” comprado com preço promocional não leva cacau na composição principal. Em vez disso, leva açúcar, gordura vegetal e aromatizante.
O biscoito, que antes tinha cobertura de chocolate ao leite ou meio amargo, agora traz apenas "sabor chocolate", indicando que a cobertura deixou de ter o mínimo de 25% de cacau exigido no Brasil para ser considerada chocolate — um percentual já baixo em comparação com a União Europeia, onde o mínimo é de 35% (ou 30% no caso do chocolate ao leite).
A mudança gerou críticas nas redes sociais. Um vídeo do consultor gastronômico Davi Laranjeira, com mais de 8 milhões de visualizações no Instagram denuncia a prática: “Eles pioram os produtos, tentam te enganar com baixa qualidade”. Ele aponta que a estratégia não é exclusiva da Bauducco: "O Choco Biscuit da Garoto também é só gordura hidrogenada, açúcar e um pouco de cacau. Não é chocolate de verdade, afirma o ." Veja o vídeo
Outros produtos populares, como biscoitos wafer e bombons, também adotaram o "sabor chocolate". O clássico Serenata de Amor, da Garoto, e o Sonho de Valsa, da Lacta, deixaram de conter chocolate real na cobertura.
Queijo Ralado Sem Queijo? Sim, Isso Existe
Produtos que se apresentam como “queijo ralado” muitas vezes são, na verdade, misturas de amido, gordura vegetal e aromatizantes que imitam o sabor e a textura do queijo. O preço pode ser mais atrativo, mas o conteúdo é bem diferente.
➡️ Dica: Desconfie de preços muito baixos e leia os rótulos. Se não estiver escrito “queijo parmesão ralado” e sim “produto alimentício ralado sabor parmesão”, não é queijo de verdade.
Mel Adulterado: Doce Engano
O mel é um dos produtos mais frequentemente adulterados. Muitas marcas misturam xarope de açúcar invertido ou xarope de milho, reduzindo os custos e enganando o consumidor.
➡️ Dica: Verifique se no rótulo consta “mel puro” ou “100% mel de abelha”. Fuja de listas de ingredientes extensas — mel verdadeiro tem um único ingrediente: mel.
Suco de Fruta Que Não Tem Fruta
Os “sucos” que encontramos nas prateleiras muitas vezes são misturas de água, açúcar e aromatizantes. Mesmo os chamados “néctares” podem conter apenas 30% de polpa de fruta, ou até menos.
➡️ Dica: Busque sucos com a informação “100% fruta” ou “suco integral”. E lembre-se: se for muito doce, provavelmente tem adição de açúcar.
Sal, Azeite, Atum... Nem Sempre o Que Parece
Outros exemplos incluem:
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Sal adulterado com aditivos ou sais mais baratos.
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Azeite de oliva “extravirgem” que na verdade é uma mistura com óleo de soja.
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Latas de atum que trazem sardinha ou carne mecanicamente separada.
Como Não Cair em Armadilhas? Veja 5 Dicas Práticas:
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Leia o rótulo inteiro — os ingredientes aparecem em ordem decrescente de quantidade.
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Desconfie de expressões vagas, como “sabor de”, “tipo”, “estilo caseiro”.
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Evite produtos com muitos aditivos e nomes químicos difíceis.
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Compare preços e desconfie de ofertas muito abaixo da média.
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Use aplicativos de análise de rótulos, como o Desrotulando ou ScanUp.
O Que Diz a Legislação
Segundo a Anvisa e o Código de Defesa do Consumidor, é proibida qualquer forma de publicidade enganosa ou informação que induza ao erro. Porém, o uso criativo da linguagem e das imagens ainda deixa brechas.
“O consumidor precisa ser um leitor ativo e crítico. Muitos produtos estão dentro da lei, mas longe da ética,” afirma a nutricionista funcional Renata S. Lima.
Comprar com consciência é o primeiro passo para se proteger das armadilhas do consumo. A indústria nem sempre joga limpo, mas um consumidor bem informado pode evitar ser enganado.
Matéria de Júnior Patente com informações da BBC.com