Lucas Novaes fala sobre a intersecção entre educação, escrita e os desafios do ofício literário no podcast Correspondência Literária

Lucas Novaes, escritor e professor, segura seus últimos lançamentos. Foto: Ane Xavier
  • Ane Xavier
  • Atualizado: 29/05/2025, 05:00h

O podcast Correspondência Literária, apresentado por Ane Xavier, recebeu, na última quarta-feira (28), Lucas Pereira Novaes, professor e autor de Vitória da Conquista, Bahia. A conversa explorou aspectos de sua produção literária e de sua atuação no campo educacional, evidenciando como esses universos se conectam em sua obra.

O Correspondência Literária é produzido e apresentado por Ane Xavier, com direção de áudio de Danilo Souza e publicação da Mega.

Lucas detalhou a experiência de lecionar em Vitória da Conquista e Maetinga. Ele notou contrastes entre o ambiente de ensino privado, com foco em resultados de exames, e o contexto da escola pública, onde a perspectiva de acesso ao ensino superior nem sempre está presente para os estudantes. Essa diferença, ele explicou, influencia suas narrativas. Novaes afirmou: "Eu acho que... é como se fossem dois países" ao comparar as realidades educacionais. Em A morte do beberrão e outras histórias, parte do livro dedica-se a reflexões sobre o cotidiano da sala de aula e personagens que representam essas realidades.

O autor esclareceu o título de seu livro de contos, A morte do beberrão. A história narra a morte inesperada de um frequentador de bar e seu impacto no proprietário do estabelecimento. O enredo aborda o tema do refúgio na bebida, com elementos abertos à interpretação. A coletânea também apresenta outras temáticas, incluindo situações absurdas e contos que exploram a traição ou interações entre assaltantes e suas vítimas.

Sobre O hoje não existe: crônicas sobre o ontem e o amanhã, Lucas discutiu a proposta irônica do título. A obra convida à reflexão sobre a transitoriedade do presente e a constante relação do ser humano com o passado e o futuro. O autor observou: "Aquele texto parte de uma provocação a respeito da frequente referência que existe das pessoas no geral de aproveitar sempre o hoje. E aí eu brinco no título dizendo que hoje, nesse sentido, não existe, porque hoje passa muito rápido, né? O nosso instante é muito efêmero, a nossa vida é muito efêmera, o nosso dia é muito efêmero". Ele afirmou que a crônica, apesar de seu formato breve, permite explorar observações do dia a dia.

Na análise dos gêneros literários, Novaes identifica-se mais como prosador. Ele sugeriu que o romance oferece maior espaço para o desenvolvimento de ideias complexas. Lucas usou a comparação criada pelo escritor argentino Júlio Cortázar: "Um conto é como se fosse um círculo... E o romance é como se fosse uma árvore." Ele indicou que o romance permite narrativas menos fechadas e mais abertas à interpretação do leitor.

O quadro Rascunhos não enviados abordou o processo de criação literária do autor. Lucas Novaes descreveu o desafio de conciliar a busca pela perfeição textual com a necessidade de finalizar uma obra. Ele ressaltou a importância de expor os textos ao julgamento externo, seja de editores ou do público. Lucas declarou: "É preciso que haja em algum momento da vida que haja uma coragem para dar o passo adiante e é deixar que alguém julgue aquele texto." A autocrítica e a busca contínua por aprimoramento foram mencionadas como aspectos fundamentais para o escritor. O escritor afirmou que um texto alcança sua plenitude quando o próprio autor acredita em seu valor, mas que a circulação da obra é essencial para o retorno e a aprendizagem no meio literário. Ele também comentou sobre obras renomadas que enfrentaram recusas editoriais antes de alcançar reconhecimento.

Finalmente, Lucas Novaes compartilhou suas expectativas para o futuro da literatura brasileira e para as próximas gerações de leitores. Ele concluiu a entrevista com uma reflexão pessoal direcionada ao "Lucas do futuro", questionando sobre o valor da trajetória profissional e pessoal, e a contínua experiência de ser pai. Ao imaginar o futuro, ele perguntou: "Valeu a pena essa trajetória? Vale a pena ensinar?"

A entrevista completa está disponível no Spotify.

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