’’Eu acho que se não fosse o Hip-Hop, hoje em dia, eu estaria no crime’’, conta Oreia MC, organizador do coletivo Revolusom

Oreia MC no estúdio da Mega Rádio. Foto: Danilo Souza
  • Danilo Souza
  • Atualizado: 16/05/2025, 09:26h

Promover a liberdade de expressão e a mudança de vida por meio do Rap. Este é o objetivo que norteia a Revolusom, grupo que organiza batalhas de rima e oficinas de Hip-Hop em comunidades e escolas de Vitória da Conquista.

Nesta entrevista, Danilo Souza conversou com Oreia MC, representante da Revolusom, sobre o surgimento do coletivo, a sua evolução e o que o grupo espera para o futuro.

O Dentro da Cena é produzido e apresentado por Danilo Souza, com apoio e publicação da Mega Rádio.

Danilo: Primeiro quero entender como a cultura do Rap influenciou e mudou a sua vida. Como e quando se deu o seu primeiro contato com o Hip-hop?

Oreia MC (Revolusom): Meu primeiro contato foi em casa mesmo, tá ligado? Minha mãe era cantora e fazia poesia, aí eu comecei a fazer poesia no colégio, teve um campeonato lá de poesia, eu competi e ganhei o primeiro lugar. Só que aí eu não sabia que ainda era rap, eu fazia rima, mas não sabia o que era rap ainda. Nesse mesmo dia pela tarde, um cantor chamado Dennis Fabulas, aqui de Conquista também, cantou um rap e eu gostei. Ele me mostrou algumas batidas e eu comecei a fazer música de rap. 

Aí eu mudei de outro colégio e lá eu vi os caras rimando, no primeiro dia eu fiquei com vergonha, só que no segundo dia eu falei “eu vou rimar hoje". E assim que eu comecei a rimar em Conquista.

Danilo: E a Revolusom? Em que momento ela surgiu e de que modo aconteceu o seu processo de fundação?

Oreia MC (Revolusom):  A Revolusom é bem antiga, não fui eu que criei. O dono dela era o Fernando, da Universal, só que ele era pastor de igreja e ele passou [a liderança] pra mim. Eu estendi para levar para a Praça [do Boneco], chegou mais MCs, e aí surgiu a Revolusom. A gente criou junto e eu continuei, tá ligado?

Oreia MC no estúdio da Mega Rádio. Foto: Danilo Souza

Danilo: Quais dificuldades vocês enfrentaram neste início? Por exemplo, já haviam equipamentos de som, como caixas e microfones, ou as primeiras batalhas eram “no grito”?

Oreia MC (Revolusom): O primeiro dia foi a capela, tá ligado? Nós tínhamos uma caixinha pequenininha, mas no começo mesmo foi a capela, e os MCs ali em volta rimando a voz. 

Danilo: A partir de qual momento você notou que estavam se estabelecendo na cidade e recebendo atenção dos MCs e do público?

Oreia MC (Revolusom): Eu acho que a batalha começou a ser bem reconhecida quando chegaram os patrocinadores. Ali eu vi que a Revolusom estava crescendo mais pra cidade, tanto pros MCs como também para as outras pessoas.

Danilo: Ao longo dessa trajetória, a Batalha Revolusom se tornou uma seletiva para o Duelo Nacional de MCs, o maior evento da categoria no Brasil. Como são organizadas essas seletivas aqui na cidade?

Oreia MC (Revolusom): Na seletiva no interior só pode vir MC de interior, da capital não pode. Em cada ano, tem um MC [que ganha a seletiva da Revolusom] que vai pra lá [para seletiva estadual, em Salvador]. Pode vir MC de Porto Seguro, pode vir Itapetinga, só não pode vir Salvador. 

Danilo: Você já identificou algum talento da batalha de rima, um cara se que destaca mais, nessas seletivas?

Oreia MC (Revolusom): Eu já vi vários. Tem CN, ele ganhou as duas seletivas e foi para o Rio de Janeiro, ele ganhou também a do Regional, então, CN é um cara muito brabo, tá ligado? Mas também tem Kelvin, tem Astro, tem Armagedon, os moleques aí.

Danilo: A Batalha Revolusom acontece em um local aberto, a Praça do Boneco, o que facilita a diversidade de público, incluindo, por exemplo, até mesmo crianças. Como você se sente ao realizar o trabalho de apresentar a cultura do Rap para esse público mais jovem?

Oreia MC (Revolusom): Eu acho gratificante, porque eu acho que o rap tem que abraçar a minoria, tá ligado? O preto, a mulher e as crianças… Porque hoje em dia o crime tá muito avançado, hoje em dia você tá vendo aí que não pode nem fazer sinal de três, de dois, cinco, quatro… Eu acho que o Hip-Hop tem que entrar dentro da comunidade e voltar para a base, o Hip-Hop não tá mais voltando para a base, tá esquecendo da periferia. A Revolusom já foi na Praça do Boneco, já foi no borracha, já foi no [bairro] México, já foi nas Pedrinhas, também já foi lá no Vila América, porque a gente quer atingir a minoria, que são as mulheres, as crianças, os pretos. E é isso.

Uma das edições da Batalha Revolusom, em maio de 2024. Foto: @bdrevolusom

Danilo: Como funcionam as oficinas de Hip-Hop que vocês realizam nas escolas e nas comunidades da cidade?

Oreia MC (Revolusom): Nós ensinamos Hip-Hop, os quatro elementos, que é o DJ, o b-boy, o grafite e o MC, ensinamos todo o movimento Hip-Hop. Como é que a gente faz? A gente chega nos alunos e pede “aí, fala com o diretor se tem como a gente ir lá apresentar”, e aí a gente vai lá, marca um  dia, e fazemos as aulas com os alunos.

[Nas comunidades] todo mundo abraçou, até mesmo o povo que é do crime, que fiscaliza, os caras [falam] “mano, gostei de vocês virem pra cá, porque isso que ‘nós’ quer, tá ligado? ‘Nós’ quer cultura aqui também”. Eu acho que o povo tem que parar de temer e ir lá ver como é.

Danilo: Você trouxe também um outro ponto, o grafite. Para algumas pessoas é arte, para outras pessoas é meio que uma “pichação na parede”. Como é que você enxerga essa forma de expressão através do grafite?

Oreia MC (Revolusom): O grafite é arte, eu acho que o grafite tem que ser visto como arte porque tem um trabalho. Não é fácil você chegar ali e grafitar uma parede, tem [que ter] autorização, tá ligado? Tem que abraçar o grafite. Por exemplo, na periferia é arte, na burguesia já é vandalismo.

Danilo: Não sei se isso chegou a acontecer com você ou se já viu acontecendo com alguém, mas o que você acha sobre o Hip-Hop como uma forma de mudança de vida?

Oreia MC (Revolusom): Pela minha história de vida, eu acho que se não fosse o Hip-Hop, hoje em dia, eu estaria no crime tá ligado? Mudou a minha vida realmente. Quando eu conheci o Hip-Hop, eu falei, “agora eu quero ser isso aqui, quero ser MC, quero ser grafiteiro, quero fazer minha arte”.

Oreia MC no estúdio da Mega Rádio. Foto: Danilo Souza

Danilo: Hoje em dia, as batalhas de rima já chegam em grandes centros da cidade, como o Centro de Cultura, que foi palco do Festival VDC Hip Hop nos últimos dois anos. Por qual motivo é tão importante levar uma cultura da periferia, muitas vezes vista como uma cultura marginalizada, para lugares como esse?

Oreia MC (Revolusom): É isso, como você falou, teve dois festivais no Centro de Cultura. Inclusive, esse ano eu vou até pra associação [VDC HIP HOP] e eu priorizei a periferia. Porque eu acho que o Centro de Cultura não quer ver a gente lá, ano passado mesmo para entrar lá teve que pagar a multa, teve burocracia. Então, tipo, acho que não vale a pena. A gente tá num lugar que não quer ver a gente, tá ligado? Sendo que tem lugares que querem ver o Hip-Hop. Eu acho que a periferia tem que abraçar mais.

Danilo: O que poderia ser feito pelas lideranças políticas da cidade, como a Câmara de Vereadores e a Prefeitura, para que mais oficinas e eventos como esses possam continuar acontecendo? Vitória da Conquista é uma cidade que apoia e incentiva a Cultura do Rap? 

Oreia MC (Revolusom): Se for pra comparar com o passado, eu acho que já expandiu muito, tá ligado? Eu não vou mentir não, expandiu muito. O Rap já está no colégio, já está conseguindo ir para UESB, já está conseguindo ir nesses lugares que nunca foi. Então acho que tá faltando mesmo só a Prefeitura mesmo, com apoio ao Hip-Hop, pra crescer bem mais.

Danilo: E o que você espera concretizar com a Revolusom através da Cultura e da Educação na cidade futuramente?

Oreia MC (Revolusom): Pô, a gente quer que [o Hip-Hop] vire matéria nos colégios e na faculdade. Eu acho que isso ainda é pouco pelo Hip-Hop.

Comentários


Instagram

Facebook