Velto Oliveira, da Outra Conduta, fala sobre o disco de estreia da banda e a transição para o trabalho autoral

Velto Oliveira no estúdio da Mega Rádio. Foto: Danilo Souza
Todo músico sabe que conseguir um público autoral não é fácil. Indo além disso, pode ser ainda mais difícil converter fãs acostumados com tributos a escutar músicas originais. Essa é a missão da banda Outra Conduta, em atividade há mais de dez anos em Vitória da Conquista e que está prestes a lançar o seu primeiro álbum. O grupo já é popularmente conhecido pelo seu tributo ao Charlie Brown Jr.
Nesta entrevista, Danilo Souza conversa com Velto Oliveira, vocalista da banda, para saber mais sobre os detalhes do disco que será lançado em breve e a transição entre o cover e o trabalho autoral.
O Dentro da Cena é produzido e apresentado por Danilo Souza, com apoio e publicação da Mega Rádio.
Danilo: Muita coisa aconteceu ao longo desses mais de dez anos em atividade. Agora vocês são presença frequente em festivais na cidade e na região como uma atração principal e são garantia de público. Pode-se dizer que esse é o auge da Outra Conduta até aqui?
Velto (Outra Conduta): Com certeza. A gente tá num momento que, quando eu iniciei a banda, era um sonho pra gente. Era uma coisa que estava bem distante, mas que hoje a gente vê que as coisas estão fluindo e a galera segue apoiando e sempre pede para que a gente faça mais shows em Conquista. Hoje eu acredito que é o auge da Outra Conduta até por ter as pessoas certas na banda, todo mundo empenhado, todo mundo focado. A gente está vivendo uma fase muito boa.
Danilo: Os dois últimos anos, 2023 e 2024, foram impactantes na história da banda. Vocês se apresentaram no Point do Rock e no Conquista Motorock, em Vitória da Conquista, no Tias Moto Rock, em Minas Gerais, e lançaram o single “Blitz” em um momento de efervescência. O que essa faixa e esse momento significaram para o grupo e de que forma vocês enxergam o recebimento do público para essa canção autoral?
Velto (Outra Conduta): Foi meio que uma estratégia minha, eu falo minha porque eu sou a pessoa que pegou todas as fases da outra conduta, né? Foi uma estratégia da gente fazer esses tributos, pra gente ter uma notoriedade fazendo esses tributos porque ia agregar o público que a gente queria da cidade para um trabalho autoral. A Outra Conduta, desde o início, foi uma banda cujo propósito era fazer música autoral, porém, por alguns obstáculos que a gente enfrentou no percurso, tivemos que entrar nessa estratégia de fazer esse trabalho de tributo.
A gente viu que o que a gente fez com o tributo já estava tomando uma notoriedade muito grande na cidade e aí foi a hora que a gente pensou, “pô, a gente já tem uma galera, um público engajado ali com a Outra Conduta, então agora é a hora da gente pensar em um trabalho autoral”. Para a gente, a música Blitz foi um pé na porta, a gente queria chegar com uma ideia forte e Blitz foi uma escolha que eu acho que foi correta porque a gente mostrou um universo que tem na banda, que é o peso de guitarra, o rap, falar de coisas do cotidiano. Blitz foi uma escolha que representou e a galera curtiu bastante.
Da esq. para dir.: Fernando Coelho, Léo Araújo, Velto Oliveira e Alemão. Foto: Igor Chaves
Danilo: Parte das pessoas que acompanham a Outra Conduta ainda interliga a imagem da banda à imagem do Charlie Brown Jr., devido aos tributos que fizeram vocês ganharem popularidade e respeito na cena. De que forma vocês enxergam isso neste momento em que buscam uma certa validação também para o trabalho autoral? Pode atrapalhar?
Velto (Outra Conduta): A gente já teve essa preocupação, na verdade é uma preocupação mais minha do que dos caras, eu sempre falei isso. No show que a gente fez no Conquista Alternativa, que foi um evento idealizado por nós e por outras bandas da cidade, [como] Há Vida em Marte e Escravos da Merenda, a gente viu que a galera curtiu demais as músicas autorais da gente e a gente tem essa possibilidade de transformar a Outra Conduta em uma banda autoral.
É um processo de transição que é complicado, a gente sempre é visto como a banda que toca Charlie Brown nos eventos, mas a gente procurou trazer músicas com a mesma essência, com a mesma fonte de trazer elementos que o Charlie Brown também trazia, mas com uma identidade nossa, com as nossas ideias também.
Danilo: Agora vendo pelo outro lado, trazendo a ligação com o Charlie Brown de uma forma positiva, como o trabalho do icônico grupo de Santos serviu de referência para as letras e a sonoridade do álbum de estreia da Outra Conduta?
Velto (Outra Conduta): Eu acho que vai trazer mais pela sonoridade. Tem muita música que a gente traz influências do Charlie Brown, mas não só o Charlie Brown também, tem outras bandas que serviram de inspiração e de Influência pra gente trazer esse trabalho autoral. A galera que curte os shows que a gente faz em tributo ao Charlie Brown vai curtir muitas músicas do disco porque a gente teve esse cuidado de trazer também elementos que o Charlie Brown trazia, que é o reggae, o rap e esse rock “skate punk”.
Então, a galera que curte Charlie Brown vai gostar também das músicas autorais da Outra Conduta. E a parte cantada foi uma coisa que também eu pensei, eu falei, “eu não posso estar cantando pra parecer o Chorão”, então eu meio que trouxe mais um formato de vocal da minha identidade, e é isso. A gente vai trazer uma sonoridade legal do que a gente faz aí nos tributos, mas com ideias nossas.
Banda Outra Conduta no Festival Conquista Motorock, em 2024. Foto: Outra Conduta
Danilo: E falando do álbum, ele, na verdade, ainda não chegou, mas já causa expectativas no público. Vocês têm publicado muitos conteúdos nas redes sociais documentando o processo de produção e gravação deste trabalho. Como tem sido essa etapa de estar no estúdio com um produtor e ver as músicas tomando forma?
Velto (Outra Conduta): Cara, eu falo pra galera que é uma coisa terapêutica estar no estúdio, ainda mais com um produtor que é Diego Albino, um cara que já tem uma experiência aí no mercado nacional. E ele passa uma visão que a gente não tinha sobre composição, sobre produção musical, sobre gravação. Então está sendo um aprendizado muito grande para a gente estar fazendo esse trabalho com ele. E eu já estou sentindo meio que saudade antecipada de estar gravando no estúdio, porque já tá na parte final, a gente já tá finalizando essa questão da produção musical, e vai ficar só a depender dele agora.
Mas está sendo incrível, não tenho nem palavras para expressar, porque são músicas que estavam no violão só o esboço e eu já tinha na mente como elas iam soar. A partir do momento que a gente foi gravando, foi entrando bateria, baixo, guitarra, eu fui vendo tomando forma e todo mundo da banda também, falo por mim, surpreendeu as minhas expectativas, as músicas ganharam uma proporção muito maior do que eu imaginava.
Banda Outra Conduta e o produtor Diego Albino no Estúdio Drakkar, onde o disco está sendo gravado. Foto: Outra Conduta
Danilo: Fazendo alusão a um dos discos ao vivo do CBJR, o “Chegou Quem Faltava”, na história da Outra Conduta, o primeiro álbum pode ser visto como “quem faltava” para consolidar e coroar mais de uma década de existência?
Velto (Outra Conduta): Com certeza, é o que faltava e o que a gente necessitava, né? Como eu disse desde o início, a ideia inicial da banda mesmo era música autoral, a gente queria mostrar músicas autorais. É tanto que nesse álbum tem músicas que foram feitas há muitos anos atrás, músicas que eu fiz com vinte anos de idade, hoje eu tô com mais de trinta.
São músicas que eu já pensava em gravar antes, só que eu acho que as coisas acontecem na hora que tem que acontecer, sabe? Talvez se eu lançasse essas músicas antes não iria ter o mesmo impacto que vai ter quando a gente lançar agora, principalmente na cena de Conquista. Então acho que tudo acontece no momento certo, sempre foi assim com a Outra Conduta. Chegou quem faltava mesmo!
Danilo: Depois de falar sobre a expectativa do público, como está a expectativa da própria banda para o lançamento? Vocês já tem alguma aposta ou “música favorita” no setlist?
Velto (Outra Conduta): O baixista, Fernando, tem uma música favorita, eu tenho uma música favorita, Léo (guitarrista) tem uma música favorita, a Geisy (social media) tem uma música favorita, o produtor tem uma música favorita… A gente não chegou em um acordo sobre qual música é a favorita da banda.
A gente tem uma noção de músicas que podem pegar, principalmente pelo refrão ou por uma melodia ali que marca, né? E o álbum está acontecendo isso também, está bem diversificado em questões de sonoridade, a gente tem umas três músicas ou quatro de hardcore, aí tem um reggae, aí tem duas músicas com uma pegada mais rap, tem uma música com o Emissário Raell, tem vários gêneros ali dentro do álbum. Acho que quem vai decidir isso é a galera quando for lançado.
Banda Outra Conduta no Point do Rock 2025. Foto: Igor Chaves
Danilo: E o que vocês esperam para depois do lançamento do disco? Há a expectativa de estar em mais festivais estaduais e até quem sabe nacionais?
Velto (Outra Conduta): Cara, a gente tá confiante, sim, de que esse álbum possa trazer proporções maiores para Outra Conduta. É tanto que o investimento que a gente está fazendo nesse álbum é uma coisa já visando sair mais de Conquista, sair da Bahia, e a gente está trabalhando para isso. A gente tem exemplos aqui na cidade, como a Dona Iracema, que é uma banda que conseguiu fazer isso, consegue fazer isso todo ano, tocar fora, tocar no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais. E a gente acredita que pode acontecer isso com a gente também. A gente está confiante aí que esse álbum possa abrir essas portas.