Dentro da Cena com Caiik, referência na produção do Hip-Hop em Vitória da Conquista

  • Danilo Souza
  • Atualizado: 13/05/2025, 07:10h

CaiiK é o “nome de estrela” de Caique Prado, nascido no estado das estrelas, como ele mesmo se refere ao estado da Bahia, e é justo usar essa denominação, afinal, ser compositor, intérprete e produtor musical das próprias faixas não é para qualquer um. Com lançamentos cada vez mais frequentes e também cada vez melhores, o artista aos poucos se consolida dentro da cena do hip-hop e do Rythm and Blues, o R&B, não só em Vitória da Conquista, mas também em outras cidades do país.

Nesta entrevista, Danilo Souza fala com CaiiK especificamente sobre a sua carreira de produtor musical, explorando suas referências, suas passagens por gravadoras da cidade e a sua relação com os artistas que produziu ao longo dos mais de dez anos em atividade na cena.

Danilo: Quem é CaiiK?

Caiik: Nossa, que pergunta difícil. CaiiK é um artista que eu acho que está começando de fato agora na cena, porque eu parei um tempinho aí, fiquei um tempinho sem fazer nada. Eu fazia cover quando eu comecei, bem lá no comecinho, e depois desse tempo eu fui tentando, eu falei “não, vou produzir [minhas próprias músicas]”. Antes eu usava aqueles freezinhos [instrumentais gratuitos] na internet e tal e depois eu fui tentando produzir e consegui chegar em um lugar legal, eu acho que consegui chegar. Tô quase explodindo a bolha de onde eu tô aqui e saí pra fora. Basicamente, é isso.

Danilo: O que te levou a ser um produtor musical? A sua conexão com a música vem desde a infância ou você descobriu ao longo da vida? 

Caiik: Quando eu era mais jovem ainda, bem mais jovem, tipo, sei lá, uns cinco ou sete anos, meus pais me mostraram o Michael Jackson. Eles, baianos, curtem Pablo, por exemplo, mas eles gostavam muito de músicas internacionais. E aí, quando meu pai me mostrou Michael Jackson, eu falei “por que que soa diferente, mano? Por que o som de Pablo não é igual? Caramba, por quê? Eu quero fazer isso aqui, como é que faz isso aqui?” Aí, mano, foi a minha infância toda em busca disso. Aí depois de um tempo eu fui entendendo que são estilos diferentes, são países diferentes, lá nos Estados Unidos essas coisas chegavam primeiro. Hoje é mais fácil fazer porque tá tudo dentro do computador, então você consegue fazer e chegar numa qualidade legal. 

O artista e produtor musical Caiik. Foto: Renato Silveira

Danilo: E quando começaram as influências brasileiras? Quem foram os artistas que te chamaram a atenção? 

Caiik: Caramba, teve uma época do Costa Gold que, pô, muito bom. Luccas Carlos, pô, quando eu vi o Luccas Carlos rimando no rap de forma melódica, eu falei “nossa, isso aqui é muito bom, mano, meu Deus, quê que é isso?". Lucas Carlos foi a primeira influência, assim, brasileira mesmo, que eu falei, “mano, esse cara é bom”. Eu não sigo a mesma linha que ele exatamente, ele também faz o R&B, mas faz de outra forma. Eu faço mais contemporâneo, consigo misturar o trap ali em cima.

Danilo: Você veio de uma cidade menor, Ibicuí, e já está há alguns anos em Vitória da Conquista. Como essa transição influenciou na sua carreira?

Caiik: Eu vim pra cá em 2017 com minha família e quando eu cheguei aqui eu já sabia mais ou menos como fazer música e tal, só que eu não sabia tanto, eu não esperava que eu ia aprender tanto assim, e aí fui conhecendo algumas pessoas pela internet. Alguns amigos meus me incentivaram e falaram, “mano, continua, continua, vamos fazer música” e tal. E na pandemia ali, mais ou menos, eu conheci a QG [Records]. Aí foi a virada de chave, consegui trabalhar com mais qualidade, aí eu comecei a estudar mais, gravei várias pessoas, fui me testando e… foi uma doideira, eu já sabia que eu queria alguma coisa, então quando eu cheguei aqui foi muito bom pra mim.

Danilo: Quais aprendizados você absorveu dessas vivências de gravar e produzir outros artistas?

Caiik: Caramba, eu acho que testei bastante, testar eu acho que é muito importante pro artista, gravar outras pessoas, saber qual timbre usar para produzir, entender como que a voz funciona, como que a mixagem funciona, até pra minha própria música. Então, eu tive muito aprendizado de produzir mesmo, tanto que eu fiquei uns dois anos sem lançar nada, só estudando e gravando o pessoal. Sobre a produção mesmo em si, acho que foi o que eu mais melhorei assim durante esse tempo. E depois, como eu comecei a lançar e tal, fui pesquisar mais sobre voz, sobre, enfim, outras coisas, mas é basicamente isso.

Danilo: Há alguma etapa no processo de produção que você gosta mais?

Caiik: Eu gosto mais da parte de produzir mesmo. Eu faço a melodia da música, a harmonia, com a referência que eu quero, ou então a loucura que vem da minha mente aqui eu coloco lá. Aí, geralmente eu faço samples, que é uma amostra. Eu faço só a harmonia, coloco em loop e vou produzindo, vou adicionando mais coisas ao longo do tempo e depois eu faço a bateria do beat. Eu pego o microfone, coloco perto de mim e vou já registrando, vou passando a limpo certinho, vou pré-produzindo de novo, mando pra mixagem e depois para a masterização.

Caiik no Estúdio Drakkar, onde trabalha atualmente. Foto: Arquivo pessoal

Danilo: E como é o CaiiK fora do estúdio? Consegue separar a vida pessoal da vida de produtor?

CaiiK: Eu sou tímido demais, mano. Eu ainda estava na QG e tal, eu lembro que a gente foi abrir o show do Matuê, e aí quando eu entrei, um segundo antes, eu tava tipo, “mano, f*deu, meu coração…”. Quando eu comecei a cantar, já era, acabou. Então eu falei, “não, isso aqui é pra mim mesmo”. É o “CaiiK artista”, depois desvincula, e volta o Caique, sabe?

Danilo: Você costuma dizer que o Supremo, um dos artistas mais relevantes da cena Hip-Hop em Vitória da Conquista, “te descobriu”. E agora, enquanto produtor, você também tem descoberto algum novo talento?

Caiik: O Supremo me viu também e falou, “pô, esse moleque, vou trocar ideia”. A gente começou a trocar ideia, a energia bateu também e é isso. Já troco ideia com a galera, inclusive, tem um maninho que é lá da minha cidade que ele é muito bom, ele me manda guia várias vezes e eu, “pô, o moleque é muito bom!” e ele faz no celular. Aí eu dou uma atenção, troco ideia com ele e tal, já até chamei pra colar no estúdio pra gente fazer alguma coisa.

Caiik e Supremo no Festival Suíça Baiana, em 2023. Foto: Renato Silveira

Danilo: Ao revisitar sua própria história, você sempre cita a gravadora QG Records com muito carinho. O que ela significa para a sua carreira?

Caiik: Na pandemia eu entrei pra QG, e aí, ali da QG, eu conheci o WNS, conheci o Manel, conheci Tupã, conheci Midas… A gente foi trocando ideia e a ideia bateu. A gente foi fazendo música junto, eu produzindo e tal. Foi lá onde eu aprendi tudo e eu criei uma certa irmandade com a galera. Eu conheci vários artistas que eu comecei a gravar, comecei a trampar com música, de fato, lá. Hoje eu não atuo mais lá, porém todo mundo é família e a gente ainda cola junto. Agora eu sou do grupo da Drakkar e cada um foi meio que pra um lado e todo mundo continua fazendo música.

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